- Thulany Dhara
- 11 de jun. de 2019
- 6 min de leitura
Algumas possuem certificação em apenas um dos campus; nem metade do total de imóveis cumpriu legislação

Hospital Universitário Pedro Ernesto, da UERJ, não tem laudo de autovistoria; Pavilhão João Lyra Filho também não possui
FOTO: UERJ/Divulgação
Paulo Renato
Em quarenta e um polos universitários da cidade do Rio de Janeiro, 14 não apresentam informações de cumprimentos da Lei Municipal da Autovistoria, que define a avaliação da conservação dos edifícios de cinco em cinco anos. Entre eles, está todo o campus principal da Uerj, no Maracanã, e seu hospital universitário, o Pedro Ernesto, em Vila Isabel. Outros doze estão em fase de adequação, sete apresentam atestado válido de conservação e oito apresentam necessidade de reparo. Na Ilha do Fundão, onde ficam diversos prédios da UFRJ, os endereços sequer estão cadastrados no portal da prefeitura. A cidade concentrava 311,4 mil matrículas de alunos em 2017 segundo o último Censo da Educação Superior, divulgado em setembro do ano passado.
A Lei da Autovistoria foi sancionada em 2013 e complementada por um Decreto do mesmo ano. Ela obriga responsáveis por imóveis a contratar arquitetos e engenheiros para inspecionar e atestar a integridade de conservação das edificações. Apenas os imóveis localizados em favelas estão fora da exigência e aqueles que devem realizar a perícia têm de fazer de cinco em cinco anos.
As informações sobre os imóveis foram obtidos pela reportagem cruzando o endereço divulgado pelos portais da universidades e o cadastro dos imóveis disponíveis no site autovistoria.rio.rj.gov.br. Quem não cumpre está sujeito a multa de cinco vezes o valor venal do imóvel, que leva em conta fatores como a área construída, local e idade do prédio.
PARTICULARES SOMAM IRREGULARIDADES
Dos três campus do IBMR Laureate no Rio, o do Catete é o único adequado. A unidade da Barra consta como necessário reparos na estrutura e o polo de Botafogo não possui nenhum registro de informação no portal. O campus da Univeritas Ser Educacional, no Flamengo, consta como em fase de adequação. A Pontifícia Universidade Católica do Rio, na Gávea, consta no portal da Autovistoria como em fase de adequação em todos seus blocos. A Universidade Veiga de Almeida da Rua Ibituruna, na Tijuca, apresenta laudo de certificação das sua estrutura. A unidade da Barra da universidade se encontra em fase de adequação.
Das duas unidades do IBMEC, apenas a do Centro da cidade está em fase de adequação.A da Barra da Tijuca, na Avenida Armando Lombardi, não possui informações. Dos sete polos da Universidade Estácio de Sá analisados, um está em processo de adequação (Praça Onze, em frente ao Sambódromo); um está adequado (Rio Comprido); um apresentou laudo de
necessidade de reparo (Presidente Vargas, na altura da Rua Uruguaiana) e outros quatro não apresentaram nenhuma informação (Santa Cruz, Barra, Recreio e Lapa).
Das cinco unidades da Gama Souza, quatro estão, segundo informado pelo portal, em fase de adequação e apenas uma, na Barra da Tijuca, apresenta necessidade de reparo.
Já a Unisuam, três dos sete polos estão em fase de adequação: um em Campo Grande, um em Bangu e outro em Bonsucesso. Os quatro restantes - dois em Campo Grande, um em Bangu e um em Jacarepaguá - não apresentam informações sobre emissão de laudos.
Dos dois campus da Universidade Santa Úrsula, o de Botafogo é apresentado como adequado. Já o da Vila da Penha não oferece informações. As duas unidades da UniCarioca - no Méier e no Rio Comprido - apresentam estar em fase de adequação.
A Mackenzie, situada na Rua Buenos Aires, atestou necessidade de obras. Já a ESPM, em seus dois prédios da Rua do Rosário, no Centro, constam como em fase de adequação (nº 90) e o outro (nº 111) já está apto para o ciclo. As Faculdades Integradas Hélio Alonso (FACHA) apresentaram laudo de necessidade de reparos em seu campus de Botafogo. O polo do Méier, na Zona Norte, consta como adequado. O campus da Universidade Cândido Mendes na Tijuca apresentou laudo de modificações necessárias, assim como o polo da instituição na Rua Joana Angélica, em Ipanema. A FGV, na Praia de Botafogo, consta como válida no portal.

Dos sete campi analisados, o do Rio Comprido é o único com autovistoria em dia
FOTO: Guilherme Leporace/Agência O Globo
PÚBLICAS TAMBÉM FIGURAM PROBLEMAS
Com 43 mil alunos, nem o campus principal da Uerj, no Maracanã, nem seu hospital universitário, o Pedro Ernesto, possuem laudos na Prefeitura sobre seus reais estados de conservação. O Pavilhão João Lyra Filho já apresenta problemas relacionados à deficiência na infraestrutura desde o ano passado, quando o Comunica Uerj noticiou em novembro do ano passado problemas na falta de saídas nas escadas de incêndio. Até hoje a situação continua a mesma.
Na Ilha do Fundão, os endereços da UFRJ sequer estão registrados no portal da Autovistoria. Na Urca, o campus da Praia Vermelha, que concentra cursos como Economia e Comunicação, é apresentado como nulo em informações.
IRREGULARIDADES ESTÃO ESPALHADAS PELA CIDADE

‘PREFEITURA SE EXIME DE RESPONSABILIDADE’, DIZ ESPECIALISTA
Apenas 45,7% dos imóveis no Rio cumpriram a lei neste primeiro ciclo de cinco anos. De acordo com a Secretaria, são 130 mil imóveis da cidade que devem cumprir a Lei. Destes, somente 23,5 mil (18%) contam com o laudo de autovistoria; 36 mil têm adequações a serem feitas e outros 70,5 mil (54,2%) não realizaram o que manda a lei.
O professor Roberto Nacif, do Departamento de Construção Civil e Transporte da Faculdade de Engenharia da Uerj diz que a regulação é uma tentativa da Prefeitura de se eximir da ineficiência fiscalizadora:
– A partir de uma identificação de ineficiência estatal de fiscalização, acharam uma solução de se eximir da responsabilidade. Aqui, já que a prefeitura não tem como fiscalizar tudo, fizeram uma lei que os próprios condomínios façam. Um engenheiro vai ter que ser responsável, indicar as medidas que eles vão tomar se encontrarem alguma patologia e informar o poder público daquilo. O engenheiro coloca o Crea [registro profissional] dele, o condomínio se responsabiliza e o poder público divide aí a responsabilidade com outras pessoas – diz.
O professor destaca também que a legislação tem seus pontos negativo e positivo:
– As recomendações partem sempre de um profissional, mas pode ser “qualquer um” que esteja no mercado. Há dois aspectos manutenção: o positivo, de que é verificar o que não foi feito no passado; e o negativo, que você coloca a responsabilidade integral no condomínio e no engenheiro. Jogaram o problema pra frente: se o condomínio não faz, o poder público vai ter que agir. Desafogou, mas eles adiaram por um tempo o problema – completa.
Nacif diz ainda que a própria universidade, que não cumpre com a legislação, foi procurada para realizar parcerias numa tentativa de se criar um “mutirão fiscalizador”, mas a proposta foi recusada pelo Departamento:
– A Prefeitura veio até a gente pedir ajuda para isso, mas é um trabalho grande. Deve se existir ensaios para se realizar um trabalho de excelência: analisar pastilha, alvenaria... a qualidade do produto. Demanda dinheiro, tempo, análise laboratorial. Não aceitamos – conclui.
O QUE DIZEM OS CITADOS
Questionada, a Secretaria Municipal de Urbanismo não respondeu como anda o processo de fiscalização daqueles que não cumpriram com a legislação até hoje, mas que notificou mais de 14 mil imóveis pela cidade que não realizaram ou concluíram a autovistoria. Também não respondeu o porquê dos logradouros da UFRJ na Ilha do Fundão não aparecerem no site.
O IBMR se limitou a dizer que o campus de Botafogo, diferente do que consta o portal, está de acordo com a legislação, mas não comprovou por meio de documentos. Disseram também que há previsão de nova vistoria em 2021, mas não respondeu se a solicitação de reparos aberta no ano passado foi concretizada com obras no campus da Barra da Tijuca.
O Ibmec disse que o prédio da unidade na Barra da Tijuca ainda não consta como verificado porque é novo e, como manda a Lei, as verificações devem ocorrer após o quinto ano seguinte à emissão do habite-se. A universidade disse ainda que já contratou uma empresa de engenharia para analisar a estrutura predial e que o laudo técnico se encontra em vias de ser protocolado na Secretaria Municipal de Urbanismo.
Não responderam a tempo do fechamento da reportagem a Universidade do Estado do Rio de Janeiro, a UFRJ, FACHA, UNIVERITAS, PUC-Rio, Veiga de Almeida, UNICARIOCA, UNISUAM, Santa Úrsula, Estácio de Sá e ESPM. As assessorias da Mackenzie, Cândido Mendes e Gama Souza não foram localizadas pela reportagem.