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Competição continental aumenta o debate sobre os impactos que a implementação da cultura europeia no futebol traz a América do Sul


Paraguai x Qatar, no Maracanã (Reprodução: Paulo Mumia/CA2019)

Por Lucas Eduardo



Na última sexta-feira, 14 de junho, começou a ser disputada no Brasil a 46° edição da Copa América e sua grande final será realizada no dia 7 de julho, no estádio do Maracanã. O país que em 2014 foi sede da Copa do Mundo de futebol, e em 2016 sediou as Olimpíadas na cidade do Rio de Janeiro, recebe pela terceira vez em 5 anos um grande evento esportivo. Entretanto, aparentemente o sucesso não é o mesmo. Nas primeiras partidas da competição, o público presente nos estádios foi muito abaixo do esperado e levantou a questão sobre como a Confederação Sul Americana de Futebol (Conmebol) está organizando as suas competições. Estádios vazios é apenas um dos diversos problemas relatados.

O preço dos ingressos é apontado como o principal fator da baixa procura pelos jogos da competição, que de acordo com a Conmebol, até um dia antes de seu início foram adquiridos 65% do total. Jogos como Bolívia x Japão e Equador x Venezuela, ambos na terceira rodada da fase de grupos, tiveram menos de 5 mil bilhetes vendidos até o momento. O jogo de estreia entre Brasil x Bolívia, realizado no Morumbi (São Paulo) teve um público pagante de 46.342, o maior da primeira rodada. A renda bruta foi mais de 22 milhões de reais, ou seja, o ticket médio da partida foi de R$485. A ocupação do estádio ficou em 69%. O menor público foi no jogo entre Venezuela e Peru, na Arena do Grêmio (Rio Grande do Sul). 11.107 pessoas pagaram para ver a partida, que teve uma renda de mais de 2 milhões de reais e um ticket médio de R$216. A ocupação foi de apenas 20% do estádio.

Contudo, de acordo com Carlos Santiago, Professor de Geografia que pesquisa sobre o comportamento de torcedores nos continentes, o alto preço dos ingressos é apenas uma pequena mostra de uma tentativa da Conmebol em espelhar o futebol sul-americano ao modelo praticado na Europa, o que de acordo com ele, precisa ter muito cuidado ao tentar implementar a cultura de todo um continente em outro. Carlos diz que alguns pontos podem sim ser aproveitados e servir como modelo para a melhoria do futebol praticado aqui, como a organização, o nível de segurança das partidas, os estádios e a grama. Entretanto, não pode tirar das pessoas os costumes e a cultura bastante presente e que é, inclusive, alvo de elogios pelos próprios europeus, como a forma de torcer. "O que fica claro é uma tentativa desesperada da Conmebol em melhorar o nível das suas competições pegando a Europa como exemplo, mas ela precisa entender o contexto social e geográfico do continente que ela comanda. O torcedor sul-americano se preocupa mais em apoiar o seu time ou sua seleção do que ir ao estádio admirar o espetáculo. Ele precisa de bandeira, sinalizador, cantar em pé o tempo todo e isso tem sido tirado dele. O espetáculo aqui é feito pelas arquibancadas e não pelo dj antes e no intervalo das partidas. A partir do momento que isso não existe mais, juntando com o preço dos ingressos, a procura fica menor e os estádios mais vazios", afirmou Carlos Santiago.

Alguns casos recentes mostram como a Conmebol tem utilizado o futebol europeu como exemplo e implementa aos poucos essa cultura na América do Sul, listamos alguns:


LIBERTADORES DA AMÉRICA

A maior competição entre clubes da América do Sul e que é o sonho de consumo entre os torcedores é o maior exemplo das mudanças impostas pela Confederação. A partir de 2019, a sua final que era disputada em dois confrontos de ida e volta, passará a ser disputada em final única, similar ao que acontece com a Liga dos Campeões da Europa. Essa mudança gerou inúmeros comentários negativos e foi alvo de críticas por parte dos torcedores, que reclamaram principalmente da perda de identidade na maneira de torcer, como é o caso do João Gomes, torcedor do Flamengo e que tem o sonho de um dia poder ver o seu time do coração disputando uma decisão no Maracanã. Agora, para realizar esse sonho, além de torcer para chegar à final, precisa torcer nos bastidores para que o Rio de Janeiro seja a cidade sede. "Estão tirando do torcedor a única coisa que ele deseja, que é torcer por sua equipe. Uma final precisa ser jogada em dois jogos. Os times precisam sentir o calor da arquibancada favorável e contra. Isso faz parte da nossa cultura", disse João.

FINAL NO SANTIAGO BERNABEU

A última final da libertadores, disputada entre River Plate e Boca Juniors, foi emblemática. O maior clássico argentino e um dos maiores do mundo foi parar na Espanha. O ônibus do Boca foi apedrejado ao chegar no Monumental de Nunez, estádio do River, para a disputa da segunda partida da final e alguns jogadores foram atingidos. Com os atletas se recusando a entrar em campo, a partida teve que ser adiada. A Commebol, dias depois, decidiu pela transferência de local da partida para outro continente, e com isso admitiu a falta de capacidade para organizar uma partida de futebol. Pablo Ernandez, torcedor do River e que mora no Brasil há 7 anos, conta que tinha comprado passagem e viajado para seu país natal apenas para ver a final e acabou se frustrando. Sem poder viajar à Espanha devido ao trabalho, nem mesmo o título conquistado foi capaz de aliviar a decepção. "Eu moro no Brasil e a maior saudade que tenho do meu país é poder ver os jogos do River. Assim que chegamos a decisão eu comprei passagem e fui à Argentina. Cheguei duas semanas antes para acompanhar todo o clima, mas não pude ver meu time ser campeão. Apesar do título conquistado, ficou um sabor amargo", relatou Pablo.

Jogadores do River Plate comemorando o título (Reprodução: El País)

PROIBIÇÕES NAS ARQUIBANCADAS


Na edição deste ano das duas principais competições entre clubes, Libertadores e Sulamericana, a Commebol aumentou a restrição nas arquibancadas. As bandeiras gigantes, conhecidas popularmente como "bandeirões", bastante presente nos estádios no Brasil, foram proibidas. Assim como bandeiras que ultrapassem 1,5m de comprimento e 1m de largura, além dos mastros. As faixas presas nas grades das arquibancadas, os famosos "trapos argentinos" também entram nessa lista. Qualquer tipo de fumaça também está vetado. O Professor Carlos Santiago afirmou que essa é uma tentativa de afastar os antigos torcedores, por muitas vezes vistos de uma maneira marginalizada, para atrair um público consumidor, que acompanha as partidas como uma peça de teatro. "Está muito claro. Eles tiram o espetáculo da mão do torcedor e coloca nas grandes arenas. Com o visual sem interferência das bandeiras e trapos, há mais espaço para a publicidade. Vira um grande espetáculo de teatro e quem ganha são os dirigentes com grandes arrecadações".


Festa com bandeirão e trapos na Argentina (Reprodução: Facebook)

Mas há quem concorde com as mudanças praticadas pela confederação. A violência bastante presente nos estádios sul-americanos e que afetava, inclusive, os próprios jogadores ao chegar à linha de fundo para bater o escanteio, é o principal argumento utilizado por quem defende essa nova maneira de pensar o futebol no continente. E casos como a final da Libertadores adiada pela violência dos torcedores do River e a final da Sul-americana em 2017, entre Flamengo e Independiente, que torcedores cariocas invadiram o estádio do Maracanã, são lembrados. Daniel Jordão, Historiador e que percorreu estádios pela América do Sul para sua pesquisa, não acha que a Conmebol é a principal culpada pela mudança na maneira de torcer. Ele acredita que os próprios torcedores ocasionaram as proibições nas arquibancadas. Os casos de violência que chegam até aos gramados, segundo ele, fizeram com que os estádios fossem esvaziando e uma atitude deveria ser tomada. "Penso diferente da maioria. Eu acredito que a Conmebol está fazendo o certo. Infelizmente a bonita festa que nos víamos nas arquibancadas deu lugar as brigas e apedrejamento de ônibus. Se na Europa eles conseguem organizar uma partida de futebol com segurança aos jogadores que estão lá trabalhando, devem sim ser exemplos."


A equipe de reportagem percorreu também os arredores do Maracanã na última terça-feira, 18 de junho, quando foi disputada a partida entre Bolívia e Peru, pela segunda rodada do grupo A da Copa América. O público foi de 26.346, para uma renda de 4,9 milhões de reais. Questionamos os torcedores sobre os estádios não estarem lotados e se o nível de segurança aumentou. Gustavo Lopez, peruano, de 58 anos, conta que é a segunda vez que veio ao Brasil para ver a competição e a diferença é nítida. “Vim com minha esposa em 1989 e a organização é incomparável. A segurança também. Hoje conseguimos chegar mais cedo, conhecer os arredores e ver o jogo com tranquilidade. Apesar de o público estar pequeno, a experiência é maravilhosa. Confesso que prefiro assim.”


O chileno Alessandro Dias, de 25 anos, veio pela primeira vez ao Brasil e se decepcionou com o Maracanã vazio. Ele conta que sempre teve o sonho de conhecer o estádio e escutava histórias do seu pai sobre jogos para mais de 100 mil pessoas. Ver uma partida desse jeito, segundo ele, foi um banho de água fria. “Quando pensamos em Maracanã, logo vem na cabeça torcida do Flamengo, Fluminense e Vasco. Hoje, apesar de ser entre seleções, eu imaginava que estaria mais cheio. Um jogo sem torcida não é futebol.”

  • pedrowb
  • 11 de jun. de 2019
  • 8 min de leitura

Equipes poliesportivas pregam a inclusão, integração, companheirismo e fair play em seus campeonatos


Os BeesCats venceram a última edição da ChampionsLigay Brasil, realizada em Brasília (Foto: Instagram Liga Gay Nacional de Futebol)

Por Felipe Melo


O futebol é o esporte mais popular do Brasil. No entanto, essa atividade ainda apresenta um domínio masculino, em que predominam culturalmente o machismo e a homofobia. Com isso, em 2017, buscando lutar contra a discriminação no futebol, o roteirista André Machado fundou o primeiro clube carioca formado somente por gays: BeesCats Soccer Boys. A partir dele, surgiram novas equipes pelo país e a criação de competições nacionais voltadas a esse público: a Champions Ligay. Com o sucesso dos projetos, essas equipes se tornaram poliesportivas e fundaram times de outros esportes, pregando a inclusão, integração, companheirismo, esportividade e fair play em seus campeonatos.


Em 2018, o BeesCats foi o primeiro time do Brasil a participar do Gay Games, o principal evento esportivo voltado ao público LGBT+ do mundo. A equipe foi vice-campeã e recebeu a medalha de prata na competição. Apesar do crescimento e do sucesso, os atletas buscam conseguir patrocínio e visibilidade para que mais pessoas possam participar das competições e para a formação de futuras seleções brasileiras gays em vários esportes.


Diante do universo homofóbico do futebol, em que o público assumidamente gay jamais teve espaço, nem nas arquibancadas, muito menos em campo, André Machado explica o nome composto de seu time. O nome Beescats Soccer Boys foi formado por uma brincadeira, que demonstra o bom humor dos atletas: “biscates só quer boys”. De acordo com Machado, o projeto começou apenas com o objetivo de reunir amigos para jogar futebol, mas começou a crescer e atrair cada vez mais interessados. A partir desse interesse, a equipe se organizou com treinos às quartas e encontros recreativos às sextas, no Aterro do Flamengo, aberto ao público.


"O Rio de Janeiro é uma cidade carente de opções para o público LGBT+ às sextas-feiras. Nossas partidas recreativas acabaram virando um grande evento. A visibilidade atraiu boleiros que jogavam em outras equipes, mas estavam dentro do armário. Então, eles vieram para o nosso time para poder praticar o esporte que tanto amam, mas podendo ser eles mesmos.", destaca Machado.


Segundo Machado, esses movimentos abrem portas principalmente para a próxima geração. Dessa forma, times e competições voltadas ao público LGBT+ contribuem para criar uma ruptura do tabu e abrir espaço para que no futuro seja tudo integrado, sem julgamento sobre gênero ou sexualidade. Além disso, o roteirista acredita que através desses movimentos possa criar um ambiente seguro em que lésbicas, gays e transexuais possam se divertir ou competir junto de seus iguais. Para ele, a prática esportiva tem um caráter social e de integração muito maior do que de competição.


"Eu acredito que a importância dos times e competições voltados ao público LGBT+ vai além da simples inclusão destas pessoas no esporte. É um momento de descoberta para todos. Tanto a sociedade descobre que os gays estão aptos a praticarem esportes, quanto os próprios gays descobrirem que podem participar ativamente de diversas modalidades esportivas de igual para igual e sem terem que se esconder atrás de uma máscara." ressalta Machado


Para Machado, o futebol inclusivo deve se espelhar no feminino e suas recentes conquistas. Ele ressalta que no esporte LGBT+ foram criadas regras fundamentais de honestidade, companheirismo, integração e fair play. Por meio dessas ideias, há a busca por uma nova cultura, diferente da empregada no futebol tradicional. “Sabemos que a competição vale o troféu, mas não é a qualquer custo. Nos nossos torneios, a arbitragem elogia muito, porque em lances duvidosos o jogador se acusa dizendo que a bola bateu. Não há brigas no futebol inclusivo. Quando um outro atleta sobe o tom, a gente tenta reeducá-lo mostrando que ele veio do futebol tradicional, que tem aqueles vícios. ”, destaca Machado


De acordo com o atacante e jornalista Flávio Amaral, que participou ativamente da criação dos Beescats e hoje atua pelo Karyocas, a experiência do futebol gay mudou a sua vida e ampliou sua visão sobre a diversidade. “É um ciclo vitorioso que estamos vivendo. Muitas histórias foram transformadas com esses times, muitas pessoas passaram a encarar de maneira diferente a sua condição enquanto gay, só por estar presente com um grupo de amigos em um ambiente, no qual ele se sentisse à vontade para praticar o esporte que tanto ama. Quantos de nós não foram afastados do futebol por homofobia e agora estão podendo retomar esse contato com o esporte. ”



Competições e Diálogo com outros esportes


Com o sucesso das partidas recreativas, o BeesCats mapeou pelas redes sociais outros times de futebol voltados ao público gay pelo Brasil. Por meio dessa pesquisa, em 2017, eram oito equipes pelo país e a necessidade de se criar uma Liga para atender a esses atletas e combater a homofobia no esporte. Times como o Bharbixas (MG), Sereyos (SC), Alligaytors (RJ), Pampacats, (RS), Futeboys (SP), Bravus (DF), Unicorns (SP), Magia (RS), Bulls (SP), entre outros.


Assim, em novembro de 2017, com parceria do aplicativo de relacionamento LGBT+ Scruff, jogadores se reuniram para criar um campeonato de futebol amador: a Champions Ligay. A próxima edição da competição, no segundo semestre, será realizada em Belo Horizonte, com 20 equipes na série especial e 4 no acesso, uma espécie de segunda divisão. “A nossa liga cresceu muito e hoje temos até uma segunda divisão e uma fila de espera de várias equipes que querem participar dessa grande festa futebolística.”, aponta Machado, um dos fundadores.


Taça e medalhas da Liga Gay Nacional de Futebol (Champions Ligay), a competição da diversidade (Foto: Instagram Liga Gay Nacional de Futebol)

De acordo com um dos organizadores da próxima edição do evento, Josué Machado, a principal importância de competições voltadas ao público LGBT+ é a inclusão e a integração, em que as pessoas se sintam à vontade de praticar um esporte que é paixão nacional. “Por muito o futebol foi tolhido da vida desses atletas. Alguns deles foram impedidos de jogar quando crianças e adolescentes por causa do preconceito das pessoas, por serem afeminados. Através desses campeonatos, essas pessoas, que cresceram com esses traumas, podem praticar o esporte que é paixão nacional. ”


Com o sucesso da Liga, o BeesCats disputou a última edição da Liga Carioca de Futebol Society, composta por mais de 150 times, sendo a única equipe formada por gays. Para o atleta Flávio Amaral, a conquista desses espaços é um dos avanços necessários para a luta contra a homofobia no futebol. Além do universo futebolístico, o atleta destaca seu trabalho como jornalista em uma coluna chamada Orgulho em Campo, que durou um ano no site Pop Bola. Por meio dessa coluna, ele abordava os esportes e as competições LGBT+.


Outra conquista é a integração entre os diversos esportes transformando esses times em equipes poliesportivas com várias modalidades. “Muitos times inclusivos de futebol deram origem a equipes de vôlei, handball, jiu-jitsu, se transformando em poliesportivas. Você junta outros atletas dentro de uma mesma família, criando um ambiente ainda mais receptivo, agradável e harmonioso e permite que mais pessoas se envolvam nessa atmosfera positiva para a prática do esporte. ”, destaca Amaral.


Um dos exemplos é o professor de geologia da Uerj, Guilherme Loriato. Ele é atleta de vôlei do time Lendários Esporte Clube e destaca que a equipe surgiu do Beescats. Para ele, essas equipes não buscam a profissionalização, mas sim a inclusão de atletas assumidamente gays em competições tradicionais, com o fim do preconceito. Neste ano, o Rio de Janeiro será sede do II GayPrix de vôlei, que será realizado entre os dias 20 e 23 de junho, na AABB tijuca, contando com a presença de 15 times de 6 estados diferentes (RS, PR, SP. MS, MG e RJ).


“Profissionalizar é tudo o que não queremos, pois segue exatamente a contramão do principal objetivo do time. Ao profissionalizar equipes LGBT+ estaríamos deixando uma brecha para que estes atletas fossem ainda mais excluídos nas categorias masculina e feminina. ”, aponta Loriato


Já em setembro, teremos em São Paulo, o primeiro torneio que irá abranger futebol e vôlei gays, a Copa True Colors, organizada por um dos fundadores da Champions Ligay e presidente do time Unicorns, Felipe Marquezin. “A ideia do campeonato é pela falta que temos no Brasil de um torneio com mais modalidades. Nele teremos vôlei e futebol. Ainda é um projeto inicial, mas seria semelhante ao Gay Games só que nacional”, comenta Marquezin



O sonho de uma seleção brasileira no World Gay Games


Apesar do sucesso, os times LGBT+ foram criados recentemente e ainda lutam por patrocínios, principalmente para disputarem a tão sonhada World Gay Games, uma espécie de Olimpíadas da diversidade. A próxima edição do evento será em 2022, com sede em Hong Kong. “Há anos atletas de vôlei viajam por conta própria e nunca houve nenhum tipo de incentivo financeiro para isso. ”, ressalta Loriato.


Dessa forma, um debate sobre a possível criação de seleções brasileiras em várias modalidades para disputarem o World Gay Games acontece entre esses times. Para Machado, é um sonho, mas que ainda esbarra em questões financeiras. “Meu grande sonho é criar a primeira Seleção Brasileira gay de futebol. Ano passado fomos para Paris disputar o World Gay Games e quase levamos um time chamado Ligay Brasil. No entanto, os jogadores do nosso time estavam se desdobrando financeiramente para viajar. Hoje, já foram encontradas 53 equipes de futebol inclusivo por todo o país.


Comemoração dos atletas do BeesCats na Champions Ligay, em Brasília (Foto: Instagram Liga Gay Nacional de Futebol)

Segundo Amaral, para ser criada uma seleção brasileira é necessário definir determinados critérios na convocação dos jogadores, além da questão financeira. “Como o futebol LGBT não é profissionalizado, os atletas não têm retorno financeiro para poderem estar disponíveis em competições em datas específicas. Então, eles dependem do trabalho, nem todos conseguem estar em todas as competições, pois tem que bancar do próprio bolso as viagens e hospedagens.


Já para Loriato, é necessário diminuir o preconceito e realizar outras conquistas antes de pensar em uma seleção brasileira. “O World Gay Games tem grande importância para vários países que já tratam diferentes orientações sexuais de maneira mais igualitária. Ates de pensarmos em grandes representações nessa competição, precisamos ocupar estes espaços no Brasil, para depois alçar voos maiores. No vôlei, por exemplo, atletas viajam por conta própria para representar o país e nunca houve nenhum tipo de incentivo financeiro para isso.”



Documentário e luta pelo fim da homofobia


Além da expansão das competições, durante a campanha dos Beescats na Taça Hornet de Futebol da Diversidade, em 2018, realizado em São Paulo, o cineasta Carlos Guilherme Vogel dirigiu um documentário intitulado ‘Soccer Boys’ sobre a luta dessa equipe contra a homofobia no futebol. O filme conta com o apoio do Canal Futura e está disponível em sua plataforma de streaming. Ele ganhou o prêmio de melhor roteiro de documentário no 7º Festcine, realizado pela prefeitura de Pinhais, no Paraná


Documentário “Soccer Boys” sobre os BeesCats para as telas (Foto: Instagram Bravus)

Para André Machado, o documentário é importante por causa da visibilidade da missão do projeto, que seria ajudar a criar uma empatia coletiva. Um debate importante sobre a discriminação sexual no Brasil e a homofobia tanto no futebol, quanto na sociedade contemporânea.


“É crescente e assustador o número de suicídios entre jovens gays tanto por depressão ou mesmo por uso de drogas. Então acredito que a prática esportiva consegue ocupar a mente da pessoa e ajudá-la a se estabilizar. São vários casos de equipes que se unem, por exemplo, para fazerem uma vaquinha e levar a um torneio um jogador carente que não tenha condição financeira.”, aponta Machado.


Para Machado, o sucesso do futebol inclusivo é só o começo para novas conquistas. Uma mudança cultural e social do esporte, principalmente do futebol, espaço em que a hegemonia heteronormativa impera. “Chegou um momento em que vários times fizeram uma fila para marcar amistosos com a gente. Eles ficavam impressionados de que havia gays que jogavam bem futebol. É dessa forma, educando e mostrando, que a gente impõe que o caminho correto não é pelo ódio. Eu acredito muito que a homofobia é gerada pelo medo. Então, a gente tem que tratar o medo explicando com calma e não batendo de frente de forma agressiva.”


Evento sofreu alterações em seu percurso devido às fortes chuvas que atingiram a cidade


Corredores disputando a maratona em 2018 (Reprodução: Facebook)

Por Lucas Eduardo

A Maratona Internacional da cidade do Rio de Janeiro acontece nos dias 22 e 23 de junho e conta com diversas modalidades de provas: Desafio da cidade maravilhosa, meia maratona (21km), 5km, 10km e a maratoninha, dedicada ao público infantil. A principal delas, a maratona de 42km, será no dia 23 de junho.


O ponto de partida, que seria no Recreio dos Bandeirantes, sofreu alteração e agora os corredores saem do Aterro do Flamengo, devido a interdição da Avenida Niemeyer após as chuvas que atingiram a cidade do Rio de Janeiro em abril deste ano. Com riscos de novos deslizamentos, a organização decidiu utilizar o mesmo percurso das Olimpíadas Rio 2016.


O objetivo da maratona era manter a tradição de passar por cartões postais da cidade, e, portanto, o novo percurso inclui: Marina da Glória, Monumento dos Pracinhas, Praça XV, Igreja de São José, Candelária, Pira Olímpica, Centro Histórico e Boulevard Olímpico. Logo em seguida a prova volta para o Aterro do Flamengo, passando por Botafogo, Copacabana e Ipanema até chegar ao Leblon, fazer a volta e retornar.


O evento, que acontece desde 1979 e chegou a ter 37 mil inscritos na prova principal em 2018, é uma tradição da cidade carioca e conta com diversas histórias. Leonardo Negrão, Engenheiro de 40 anos, conta que a paixão pela corrida surgiu após romper os ligamentos do joelho jogando futebol. Depois da grave lesão, ele não tinha condição de praticar outros esportes e achou na corrida a sua salvação. Com duas maratonas completas e mais de vinte meia maratonas no currículo, Leonardo descreveu a importância que o esporte tem em sua vida: ‘’Quem mantém o hábito saudável da corrida fica viciado na endorfina. Quando você fica um tempo sem correr o corpo pede. A sensação pós-treino é inexplicável’’.


O clima e os cartões postais da cidade carioca ajudam no hábito de correr. É normal passar pelas orlas das praias e ver diversas pessoas praticando e se exercitando. O Nutricionista Carlos Daniel conta que os benefícios para quem mantém uma boa rotina de corrida são nítidos na saúde das pessoas. Carlos conta que com a prática constante a pessoa se sente melhor, dorme melhor e tem mais disposição no dia a dia. Os benefícios se estendem além da questão física: ‘’Correr ajuda a aliviar o estresse e traz uma leveza nos pensamentos. Certamente uma pessoa que mantém o hábito está mais preparada para lidar com as questões que o dia a dia nos oferece’’.

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