- Thulany Dhara
- 11 de jun. de 2019
- 3 min de leitura
Alunos pobres da rede pública recorrem a pré-vestibulares sociais em busca de melhores condições de vida

Fonte: O Dia
Alunos do pré-vestibular da Fundação Cecierj
A aprovação de alunos pobres da rede pública de ensino na faculdade, é consequência das mobilizações sociais e políticas para acabar com os abismos educacionais entre ricos e pobres no Brasil. O acesso à uma boa graduação divide uma vida inteira de possibilidades a empregos com altos salários, transporte e saúde de qualidade. Logo, a solução para milhões de jovens é buscar alternativas que garantam a aprovação no vestibular.
Apesar da disposição, esses alunos enfrentam diversos obstáculos no caminho, o primeiro é saber driblar as deficiências educacionais do ensino público fundamental e médio que, em muitos casos, não têm professores, os recursos materiais e financeiros são limitados e não há estudo direcionado para o exame. Mesmo assim, o sonho de se matricular em uma faculdade não os impedem de buscar outras alternativas. No fim, o pré-vestibular social para esses jovens, é a única oportunidade de acesso a faculdade.
Monique Félix de Morais, 24 anos, graduanda do curso de pedagogia da UERJ, foi aluna aluna do pré vestibular social oferecido pela ONG Ser Cidadão, o projeto a possibilitou compreender que a faculdade também é seu lugar, apesar da sua condição social. “Eu vi que tinham muitos jovens na mesma situação que eu, sem instrução nenhuma para prestar vestibular e mais, sem noção de como toda vida universitária funciona. Esses projetos servem para garantir o direito dos pobres a educação e a cidadania plena,” conta.
O pré-vestibular social permite um lugar de diálogo sobre questões políticas e sociais do país, o ensino nestes lugares são abordados de maneira a incentivar a aprendizagem e a prática do protagonismo juvenil. Além disso, o contato com orientações vocacionais, já que muitos alunos desconhecem de várias profissões ou áreas de interesse. “No pré-vestibular social, tive orientação vocacional, o que me fez descobrir a paixão pela pedagogia e além disso, tive formação humana. O resultado foi aprender a estudar, a gostar de estudar e a ser uma cidadã consciente dos meus direitos e deveres”, afirma Monique.
Em 2017, do total de pessoas que concluíram o ensino médio, 67,7% haviam frequentado apenas a rede pública, no entanto, apenas 35,9% dos estudantes conseguiram ingressar na faculdade. Enquanto isso, 28,2% os alunos que completaram o ensino médio na rede privada, 79,2% ingressaram no ensino superior, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua).
Os problemas enfrentados pelos alunos da rede pública, ultrapassam a qualidade de ensino. Muitos não conseguem frequentar as aulas do pré-vestibular social por falta de dinheiro para a alimentação e transporte. Para Ana Carolina Rocha de Souza, 25 anos, ex-aluna e, atualmente, professora pré-vestibular social da UFF, afirma se esforça para incentivar seus alunos. “A minha principal dificuldade é manter os alunos motivados ao longo do ano, pois mesmo sendo um pré-vestibular público vários alunos desistem por falta de dinheiro para passagem, lanche ou problemas pessoais que afetam seus rendimentos”, diz.
Além das desigualdades sociais, a cor ou raça afeta o acesso de alunos negros ou pardos nas universidades. De acordo com a PNAD Contínua, em 2017, 42,7% de alunos brancos da rede pública ingressaram na faculdade, enquanto somente 29,1% dos alunos pretos ou pardos nas mesmas condições de ensino entraram na universidade.
Para Renan Silva, 25 anos, estudante de direito na Uerj, ex-aluno do pré vestibular da Cederj e EducaAfro, essas organizações sociais possibilitam a oportunidade de frequentar uma universidade mais plural, com diversidade de cor e classes sociais. “Os pobres, negros e suas "minorias" de modo geral trazem um novo aspecto para o ambiente acadêmico. Essas muitas culturas e experiências moldam a estrutura elitista e segregacionista das universidades, afetando diretamente a estrutura educacional do país com pluralidade cultural, diversidade étnico-racial e sexual”, afirma.
Os alunos aprovados na faculdade se tornam referência no seio familiar e orgulho entre seus vizinhos e colegas. Para Renan Silva, suas conquistas servem de exemplo e incentivo para sua família. “Tenho duas irmãs e sou o irmão mais velho, e minha luta acaba refletindo nelas. Sou jovem, morador da favela e isso não é impedimento. Estudar é um caminho árduo, mas necessário. Meus primos e amigos me veem como exemplo e muitos buscaram um caminho parecido e estão conquistando novas terras”, afirma.