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Diplomas de ensino superior guardados: Entenda os motivos

  • Foto do escritor: maria machado
    maria machado
  • 10 de jun. de 2019
  • 4 min de leitura

Por Aldo Medeiros


Todo ano, milhares de estudantes prestam vestibular para dar início ao sonho do diploma de ensino superior. Entretanto, o diploma não é garantia da área de atuação no mercado profissional. Uma pesquisa feita pelo economista Naércio Menezes Filho, do Insper, mostra que o casamento entre área de formação e de atuação é de menos de 50% em 34 das 41 profissões. A coincidência entre a graduação e emprego aumentou em apenas 17 profissões,

entre elas pedagogia e medicina.


Uma pesquisa feita pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) afirma que menos da metade dos formados em Engenharia atuam na área. O levantamento aponta que 42% dos formados atuam na área de formação e 54% trabalham no setor industrial, a maioria na região sudeste. O levantamento preocupa o setor produtivo. A CNI critica o excesso de teoria na formação dos engenheiros e pede um curso mais voltado para a prática. Para a confederação, a culpa do não casamento entre formação e profissão é da falta de experiência dos estudantes.


O setor de administração corresponde a 30% dos formados. Apesar dos números serem expressivos, apenas 4,9% dos formados nessa área são administradores de empresa e 9,4% são assistentes administrativos, função que não exige ensino superior.


Thiago Barranco, graduado em Ciências Contábeis, hoje é concursado na função de técnico universitário. Para Thiago o fator determinante para a troca de profissão foi ser contratado como assistente administrativo em vez de analista de mercado, então viu no concurso público uma melhor oportunidade de melhorar a qualidade de vida.


“Eu trabalhava em uma empresa privada, mas o cargo não era compatível, era abaixo da minha formação. Quando passei no concurso, fui. O salário era maior e me dava a oportunidade de focar em outras questões da vida, projetos pessoas, como nos cursos de fotografia que eu fiz.” Relata Thiago.


Os motivos para a troca da área de atuação são diversos. Um deles é a necessidade de retorno rápido, como conta Lucas Kelvin, formado em Letras, que trabalha como garçom e motorista de aplicativo, pois sua meta é pagar a dupla cidadania e se mudar para a Europa.


“Os custos pra tirar a dupla cidadania são altos, muitos documentos. Preciso fazer dinheiro rápido, infelizmente minha formação não me ajudou nisso, me daria um retorno alto a longo prazo, mas meus planos para daqui uns anos na são ficar aqui. Muitas pessoas que se formaram comigo seguiram outras profissões, muitas mesmo.” Contou Lucas


Os baixos salários para os professores também influenciam na troca de profissões. Allan Ribeiro, formado em Geografia, começou a dar aula de sommelier de vinhos, pois o valor da hora aula era o dobro do salário de professor.


“No último período eu já trabalhava como professor, recebia 15 reais por hora de aula que eu dava, era barman para complementar a renda e fiz diversos cursos na área de bebidas, quando me chamaram para dar aula no curso de sommelier e falaram que o salário era 30 reais a hora aula, fiz os cálculos em relação à quantidade de aulas que eu daria e vi que valeria mais a pena. Mas não me arrependo de ter cursado Geografia, ainda procuro uma oportunidade na área que valha a pena.” Afirmou Allan.


Dentro da universidade se tem contato com diversas atividades antes não praticadas pelos alunos, essas novas experiências podem mudar o rumo dos alunos. Isso aconteceu com Paulo Victor da Silva, formado em Geografia. Durante a graduação teve que produzir um documentário para uma disciplina e assim descobriu o gosto pelo audiovisual.


Paulo Victor que atualmente trabalha como editor de vídeo, afirma ser grato ao curso por abrir a sua visão e lhe proporcionar essa nova visão “O trabalho final da disciplina Geografia e Cinema era produzir um mini documentário. Gostei muito de fazer aquele trabalho e comecei a pesquisar sobre. Dentro da Universidade comecei a me aproximar da galera que trabalhava com audiovisual. Fiz os cursos na área de audiovisual enquanto me formava na Geografia, mas segui trabalhando na parte de vídeo. Apesar de não ser minha área diretamente, a Geografia me ajuda muito a pensar meu trabalho, me deu uma nova visão de mundo que hoje uso no meu trabalho, além dela ter aberto minha cabeça para esse ramo.”


Porém, não só saem da educação para outras áreas, o oposto também acontece. A formada em Nutrição, Glória Ferreira, hoje trabalha como professora. Necessidade de emprego, pouca oferta na área de formação e descoberta do gosto pelo magistério a fizeram continuar na área e deixar o diploma de nutricionista guardado.


“Quando eu estava na faculdade precisei arrumar um emprego e, como era difícil arranjar algo no campo da nutrição, comecei a dar aula. Descobri que preferia muito mais dar aula do que ser nutricionista. Nutrição era algo mais que meus pais queriam. Mesmo assim terminei, mas logo depois fiz o normal e virei professora.” Contou Glória Ferreira.


O campo de pesquisa também perde seus graduados para outras áreas, um dos motivos é o baixo investimento em pesquisas. A formada em bacharelado em Biologia, Hellen Lopes, hoje trabalha como tatuadora e afirma que a falta de recursos foi um fator determinante, além de buscar crescer e forma mais independente.


“Me formei em Biologia, sonhava em ser pesquisadora. Mas no final da faculdade as coisas não fluíram como eu imaginei, tinha poucos recursos, dificuldade de entrar no mercado, enfim. Comecei a pensar em uma profissão que me ajudasse a ter liberdade e dependesse só de mim pra crescer. Não foi uma decisão fácil, mas falar isso pra família foi a parte mais difícil. Posso falar que não seguir a profissão que se formou, ou começou a estudar, é algo comum, pelo menos nas pessoas do meu convívio. Escolher sua profissão aos 17 anos é muito difícil.”Respondeu Hellen.


Além desses, existem diversos exemplos de famosos que se formaram no ensino superior e seguem uma carreira não relacionada com a graduação, por exemplo, o ex-atacante Romário é formado em Moda, a cantora Sandy é graduada em Psicologia, o cantor Filipe Ret é formado em Jornalismo e a atriz Paolla Oliveira é formada em Fisioterapia.

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