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Coaching: a ascensão e os limites

  • Foto do escritor: maria machado
    maria machado
  • 11 de jun. de 2019
  • 4 min de leitura

Atualizado: 12 de jun. de 2019

Após polêmica com psicólogos, criminalização e regulamentação da prática são debatidas e

direcionadas ao Senado


José Roberto Marques, presidente do Instituto Brasileiro de Coaching, em palestra (Foto: G1)

Por Bernardo Dias


Muitas vezes taxado como charlatanismo, o coaching cresce constantemente no Brasil. Segundo a International Coach Federation (ICF), a atividade conta com cerca de 73 mil praticantes no país e movimenta mais de US$ 2,3 bilhões por ano em todo mundo, tornando-se uma tendência que extrapola o nicho empresarial. Apesar da ascensão, o risco do uso do coaching em práticas e terapias infundadas foi alertado por psicólogos e psiquiatras, e levou a Brasília um debate sobre seus limites.


Coach, do inglês, "técnico", segundo a Federação Brasileira de Coaching Integral e Sistêmico (Febracis), é "um profissional que atua desenvolvendo as habilidades humanas, trabalhando com ferramentas e técnicas eficazes, que fazem com que o coachee (cliente) desenvolva o autoconhecimento e neutralize suas limitações para alcançar o sucesso pessoal e/ou profissional."


O coaching, como essa prática é chamada, espalhou-se, inicialmente, no meio empresarial,

geralmente com o objetivo de qualificar e motivar profissionais para atividades específicas. A

prática é usada em inúmeras áreas, e comumente aplicada em workshops, aulas, palestras, e até mesmo como forma de terapia. O exercício de algumas delas por parte de pessoas sem devida qualificação é a causa da maior parte das contestações ao coaching.


A polêmica em torno de um alegado charlatanismo é tão grande que foi levada ao Congresso. Uma Ideia Legislativa feita no site e-cidadania com o objetivo de criminalizar o coaching recebeu mais de 20 mil apoios e foi transformada em Sugestão Legislativa. Após ser redigida no Senado, agora passa por consulta pública e tramita na Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa.


Segundo o autor da proposta, o sergipano William Menezes, o objetivo é não permitir "o

charlatanismo de muitos autointitulados formados sem diploma válido, e propagandas enganosas como 'reprogramação do DNA' e 'cura quântica'." Outra Ideia Legislativa, publicada no site pelo coach gaúcho Ronald Dennis Pantin Filho, propõe a regularização do coaching como profissão. Essa segunda conta com mais de 4 mil apoios, cerca de 20% do número necessário para ser levada ao Senado.


As propagandas enganosas apontadas por William são observadas, também, pelo Instituto

Brasileiro de Coaching (IBC). O instituto, porém, alega que essas práticas não representam o

coaching como um todo, e que há um confusão sobre suas finalidades: "Estão confundindo o coaching com 'reprogramação de DNA' e 'cura quântica'. As pessoas costumam achar que o coaching é uma terapia, quando na verdade é uma metodologia de desenvolvimento. Trata-se, na verdade, de um processo no qual se estabelece, junto ao cliente, a melhor estratégia para alcançar um objetivo determinado."


Apesar de negar a aplicação do coaching como terapia, o IBC causou revolta ao levar ao grande público a ideia contrária. Em capítulo da novela O Outro Lado do Paraíso, exibido em 2018 pela Rede Globo, uma personagem recorreu a uma terapia de coaching hipnótica para solucionar traumas psicológicos. As cenas, pagas pelo instituto, foram denunciadas ao Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar) e motivaram uma nota orientativa do Conselho Federal de Psicologia (CFP).


Rodrigo Acioli Moura, Conselheiro-Presidente do Conselho Regional de Psicologia do Rio de

Janeiro (CRP-RJ), conta que, antes da nota, muitos profissionais já procuravam o Conselho

relatando exercícios ilegais da psicologia. "Isso intensificou quando, na novela, foi mostrado o coaching como solução pra um problema que cabia à psicologia e à psiquiatria. E, depois, descobrimos que isso foi, na verdade, merchandising. Pagar para que a prática fosse divulgada em um meio de comunicação tão amplo, alegando que determinadas doenças poderiam ser tratadas com o coaching, foi um desserviço à sociedade", disse o psicológico.


Para Rodrigo, a disseminação acelerada do coaching é explicada com a situação econômica do país: "Vejo o coaching como um movimento de moda, num momento de grandes índices de desemprego, muitas vezes para melhorar um currículo ou buscar um novo mercado". Segundo ele, a grande preocupação do Conselho com a prática é "o surgimento de pessoas oferecendo serviços de ajuda para quem possui problemas psíquicos e emocionais, sem capacitação para lidar com suas complicações". Acioli ressalta que essa invasão de trabalho oferece perigo, "não à psicologia, mas à sociedade."


O IBC, porém, reforça sua ética na formação de coaches, negando a invasão a outros campos: "Todos os profissionais formados pelo IBC são orientados pelo nosso código de ética, e um de seus principais pontos é respeitar a atividade profissional de outros campos, como Psicologia, Nutrição e áreas da saúde física, emocional e mental. Temos toda a preocupação em fazer um trabalho ético e profissional, e um compromisso com a busca de evidências empíricas e científicas", declarou o instituto.


Para Rodrigo, as desconfianças em torno da ética coaching têm muito a ver com a falta de uma regulamentação específica para a atividade, como sugerido no e-cidadania. Acioli, entretanto, não defende uma proibição, e acredita que possa existir uma coexistência do coaching junto à psicologia, caso seja reconhecido como uma ferramenta de trabalho: "O coaching não é uma profissão, mas um conjunto de técnicas que podem ser aplicadas em diferentes áreas, de acordo com sua formação e especialidade. Inclusive na psicologia, quando forem condizentes e não violarem o código de ética", disse


Em contrapartida, o IBC ressalta que em nenhum lugar do mundo o coaching possui

regulamentação específica, e defende a própria clientela como medidor de qualidade: "O mercado, por si só, é um grande regulamentador; nada que não gere resultados e tenha consistência vai conseguir crescer e amadurecer. Os clientes são cada vez mais exigentes. O número de alunos do IBC cresceu mais de 1.000% em menos de 5 anos e hoje 70% dos alunos vem de indicações. Já treinamos mais de 1 milhão de pessoas e centenas de grandes empresas; prestamos serviços para o Ministério Público Federal, Tribunais de Justiça e diversas instituições respeitadas. Essas são evidências de qualidade."


Por fim, o instituto reconheceu fragilidades em sua área, e declarou que uma regulamentação

pode vir a ser debatida, caso seja favorável: "O mercado de coaching ainda está em pleno desenvolvimento no Brasil, e carece de maturidade em muitos sentidos. É possível que determinados parâmetros regulamentadores possam ser benéficos para o segmento, desde que amplamente debatidos com todos os envolvidos e com as principais instituições de Coaching do país."

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