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Feminismo: questão de cidadania

  • thegabriellasouza
  • 11 de jun. de 2019
  • 3 min de leitura

O diálogo e a troca de experiências entre homens e mulheres são importantes para reduzir o machismo


HELENA DA COSTA GOMES


Fonte: WordPress.com

Homem em manifestação contra o machismo.


Entre janeiro e julho de 2018, o Ligue 180 (Central de Atendimento à Mulher) registrou 27 feminicídios e 547 tentativas. No mesmo período, os relatos de violência chegaram a 79.661, entre os quais 63.116 eram de violência doméstica.

O movimento feminista surgiu em 1960 e, quase 60 anos após as primeiras reivindicações, os números de violência contra a mulher ainda são muito altos. Desde o início, as mulheres vêm lutando pelos seus direitos e hoje a população brasileira está mais consciente sobre a importância do movimento: uma pesquisa do Datafolha mostrou que 52% dos homens apoiam o feminismo.


Se a luta por direitos iguais entre o gênero masculino e feminino está em pauta há 60 anos, e, apesar disso, as mulheres continuam sofrendo violência e discriminação, essa questão deixa de ser apenas delas e passa a ser da sociedade como um todo. “Para mudar essa situação, creio que é preciso ter uma grande conversa coletiva sobre o feminismo, que envolva a todos, como cidadãos. A experiência e a fala são importantes para iniciar uma conversa e tornar os espaços de diálogo e poder menos segregados. Além disso, para que uma transformação ocorra, ela deve necessariamente passar também pelos homens. Eles também precisam falar e elaborar as suas experiências” - afirmou a socióloga Verônica Daflon.


Mas, como fazer com que os homens queiram ouvir as mulheres e mudar o comportamento machista? A aluna de jornalismo da UERJ, Alessandra Araujo, explica que “eles precisam estar dispostos a ouvir, a reconhecer que eles têm um privilégio e entender a perspectiva de quem não tem, sem querer impor sua opinião".


Para que os homens entendam as mulheres, é necessário que eles se coloquem no lugar delas e dialoguem. Verônica disse que “qualquer ser humano tem mais facilidade de compreender e se conectar com aquilo que é familiar do que com o que é distante da sua experiência. E a experiência das mulheres normalmente é estranha e distante para muitos homens. Por esses motivos, suspeito que para que a aproximação seja efetiva, ela precisa assumir a forma de um diálogo: podemos perguntar a eles o que é ser “homem”, o que é masculinidade, a que tipos de coerções sociais eles estão sujeitos e tentar demonstrar como essas coerções limitam seu horizonte de experiências.”


O trabalho de conscientização dos homens em relação às mulheres já começou a aparecer. É o caso do MEMOH (HOMEM ao contrário), um grupo de acolhimento criado por homens para promover a equidade de gênero, fazendo eles refletirem sobre seu modo de agir consigo, com o outro e com a sociedade. Para Pedro de Figueiredo, idealizador do MEMOH, “essa busca por ser o macho alfa afasta os homens não só do debate feminista, mas também de coisas mais simples, como uma relação amorosa com a família e com amigos. O comportamento padrão da masculinidade afasta o homem de se conectar com sentimentos comuns a todos. A gente acaba se forçando a negá-los para se enquadrar nesse padrão de comportamento.”


Nesse sentido, os encontros MEMOH ajudam os homens a entenderem a situação das mulheres, a pensarem sobre o comportamento machista e transformá-lo. Pedro conta que “a masculinidade faz os homens seguirem a figura violenta, machista, que objetifica a mulher e a vê como uma pessoa menor. O nosso trabalho no MEMOH é mudar isso.”


Fonte: Mídia Ninja

Cartazes de homens em manifestação contra o machismo e contra as masculinidades.


Apesar de iniciativas como essa, ainda há uma desconfiança das mulheres em relação à participação do homem no debate feminista. Um exemplo disso é relatado pelo estudante de ciência da computação da UERJ, Renan Carvalho: “Uma vez quis participar da roda de conversa das mulheres, porque acho que desse jeito o machismo pode ser reduzido, mas me senti excluído simplesmente por ser homem”. Já o aluno de ciências contábeis da UFRJ, João Marcelo Ferreira, disse que quando tentou tirar suas dúvidas sobre o assunto com as meninas do seu curso, foi interrompido por ser do sexo masculino.


Segundo Alessandra Araujo, “às vezes uma mulher é grossa e ataca, porque ela já sofreu a vida inteira e está simplesmente cansada, ou porque já tentou ser didática mil vezes e só não foi realmente ouvida.”


Entretanto, sem o homem no debate para entender seus próprios comportamentos, a cultura machista permanece. Sua presença, portanto, é necessária para haver uma mudança social, que só será alcançada por meio de um diálogo harmônico entre todos.

 
 
 

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