Obras no RioZoo reacendem debate sobre a existência dos zoológicos
- thegabriellasouza
- 11 de jun. de 2019
- 4 min de leitura
Ativistas e biólogos questionam atual modelo das instituições
ANA BEATRIZ ARAÚJO
Fonte: riozoo.com.br
Visitantes no RioZoo
Com cerca de 75 mil animais, os zoológicos e aquários brasileiros atraem 30 milhões de visitantes por ano, segundo o Ministério do Turismo. Apesar de populares, as 108 instituições são alvos de ativistas e biólogos que questionam o atual modelo. As obras do RioZoo, iniciadas em 2018 reacenderam esse debate.
Essas instituições abrigam representantes das 1173 espécies com risco de extinção, de acordo com o Instituto de Conservação da Biodiversidade Chico Mendes (ICMBio). O motivo que ameaça a existência desses animais é a expansão agrícola e urbana, além da instalação de hidrelétricas que atingem o habitat dos bichos.
Os primeiros zoológicos que se têm registros surgiram na Mesopotâmia, atual região do Iraque, há mais de 6,5 mil anos atrás. Era comum que imperadores e monarcas colecionassem animais considerados exóticos, adquiridos em batalhas para mostrar que haviam derrotado outros países.
No século 16, nasceu, na Inglaterra, o primeiro zoológico com o modelo conhecido atualmente: grandes espaços com os bichos enjaulados e visitação aberta. No Brasil, o pioneiro foi o zoológico do Rio de Janeiro fundado em 1888 pelo Barão de Drummond e aberto ao público em 1945. O local é referência mundial no tratamento dos animais e na formação de visitantes conscientes.
Desde 2018, o RioZoo passa por reformas para a criação de um bioparque. A ideia é implantar o conceito de enclausuramento reverso usado em zoológicos famosos como o Zoo de San Diego, na Califórnia. Com isso, as grades que separam os animais do público deixarão de existir, o que proporciona bem estar a eles: “Felizmente na sociedade os maus tratos aos animais são cada vez mais rejeitados. Essa obra é uma nova ideia do que tem que ser os zoológicos: um espaço para o público conhecer melhor os animais”, acredita Hélio de Sá, representante do Ibama.
Essa reforma reacendeu os debates sobre a existência dos zoológicos. Os que defendem afirmam que eles ajudam a conscientizar a população sobre a importância de preservar a biodiversidade para salvar os animais. Já os críticos acreditam que eles não se beneficiam, pois podem adquirir doenças nesses ambientes.
Outras questões também são discutidas como o cárcere, a origem dos animais e a função que as instituições têm na sociedade. A veterinária Júlia Machado acredita que os zoos não proporcionam bem estar aos animais: “O modelo de zoológicos implantados no Brasil é perverso, pois os animais ficam enjaulados e não permite que, por exemplo, grandes felinos consigam andar toda a sua quilometragem diária.”
Uma das justificativas dos biólogos e veterinários que se opõem aos zoológicos é que os animais criados em cativeiro apresentam doenças que se desenvolvem pelo tédio e estresse que são submetidos : “Eles podem desenvolver infecções e alergias decorrentes de estresse e alimentação inadequada, além de diversos tipos de neuroses de cativeiro, inclusive depressão”, afirma Júlia Machado.
De acordo com a Associação de Zoológicos e Aquários do Brasil (Azab), os zoológicos devem apresentar programas para evitar que os animais adquiram possíveis doenças. Atividades como buscar o próprio alimento e interagir com outras espécies. Essas atividades diminuem o estresse e estimulam a reprodução.
No zoológico do Rio, pesquisadores desenvolveram o Projeto Refauna para evitar que os animais desenvolvam transtornos psicológicos. Além disso, é uma forma das espécies ameaçadas não desaparecerem e ajudar a repovoar a Floresta da Tijuca: “A primeira espécie que colocamos na floresta foi a cutia que é um roedor muito importante para sua reconstrução”, defende a pesquisadora da UFRJ Catharina Kreischer.
Fonte: riozoo.com.br

A interação do público é importante para o desenvolvimento do animal que está no zoo.
Outra polêmica que aparece nas discussões é sobre as condições que os animais são expostos ao público. Muitos acreditam que eles foram dopados. Para a tratadora Mayara de Oliveira, o público, por não conhecer a biologia das espécies, julgam problemáticos comportamentos normais. O leão, por exemplo, é uma espécie noturna. Como os zoológicos funcionam de dia, as pessoas encontram ele dormindo.
A origem dos animais também é discutida. De acordo com Mayara de Oliveira, as pessoas propagam o mito que os bichos são retirados da natureza para compor os plantéis: “A maior parte dos que vivem em zoológicos foram resgatados de situações de risco e, sem condições de reinserção na natureza, doados às instituições. O resgate é a principal origem atualmente.”
Os defensores dos zoológicos têm a ideia de que nesses espaços o público pode respeitar mais as espécies, desenvolvendo uma consciência ambiental. Eles acreditam que as instituições são um espaço de integração com a sociedade. Pessoas contrárias, defendem que o contato com a fauna em cativeiro só naturaliza a existência de animais confinados: “O que deve ser ensinado às pessoas é a verdadeira conscientização ambiental, que nada tem a ver com animais confinados”, afirma a ativista Laura Nunes.
O novo modelo de zoológico proposto pelo RioZoo dá importância a experiência do público além dos estudos sobre a preservação animal. Para a instituição, muitos animais dependem dos humanos para sobreviver : “Os zoológicos são faróis nesse sentido porque captam recursos e mobilizam a população”, defende o biólogo Maurício Moreira. “Se hoje a gente tem a capacidade de tranquilizar uma onça na natureza para colocar um chip em sua pele e monitorar seu habitat é porque a gente aprendeu isso com pesquisas feitas em zoológicos”.
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