Programa de controle de enchentes da Prefeitura do Rio é ineficaz
- Thulany Dhara
- 11 de jun. de 2019
- 4 min de leitura
Especialista diz que medidas propostas não resolvem a causa do problema que é a degradação da bacia hidrográfica do município

Blindado circulando por ruas inundadas de Acari, em abril desse ano
Rene Silva/Voz das Comunidades
Ana Paula Santelli
Os projetos propostos para o Programa de controle de enchentes da Prefeitura do Rio de Janeiro, no Plano Estratégico 2017/2020 da cidade, consistem apenas em drenagem de rios na Zona Oeste. Segundo o planejamento orçamentário do município, o programa prevê a implantação e manutenção de sistemas para escoamento das águas de rios, canais, galerias e outras estruturas hidráulicas. No entanto, as medidas focam em um aspecto do problema que, para o professor associado do Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental da Uerj, Adacto Ottoni, não solucionam as inundações.
- O maior causador de enchentes é a degradação da bacia hidrográfica urbana que está bastante impermeabilizada, devido ao crescimento desordenado da cidade, e que sofre com muitos problemas de poluição, como esgoto, lixo e material de erosão do solo –
afirma Ottoni que acredita que as medidas da Prefeitura atacam as consequências dos alagamentos e não, as causas.
Administrado pela Rio Águas, o programa tem apenas duas metas no Plano Estratégico: a implantação de sistemas de macrodrenagem na Bacia do Rio Acari e em quatro rios da Bacia de Jacarepaguá. De acordo com o engenheiro, a solução efetiva para as inundações passa por uma gestão sustentável da bacia hidrográfica visando a drenagem urbana. O saneamento do lixo e do esgoto são as principais soluções pois esses detritos assoreiam os rios e entopem os bueiros, reduzindo a capacidade de escoamento dos dois. Há também outras medidas, como: coleta regular do lixo em todas as áreas do município, inclusive as favelas; aumento da permeabilidade do solo; construção de pequenas e médias barragens de cheias nos morros; e o reflorestamento de áreas desmatadas já que a vegetação segura 80% da água da chuva.
O programa teve ainda uma redução, em comparação com a gestão passada, de 78% em seu orçamento. Em 2014, segundo ano do último mandato de Eduardo Paes (à época no MDB), a Rio Águas gastou R$ 294,7 milhões no programa. Já, em 2018, segundo ano do governo Crivella (PRB), foram usados 66,2 milhões.

Previsão orçamentária e valor gasto para controle de enchentes durante duas gestões diferentes
Rio Transparente
Bacias de Jacarepaguá e do Rio Acari
As obras na Bacia de Jacarepaguá começaram durante a gestão de Eduardo Paes que drenou 10 dos 14 rios que compõem a bacia. Fruto de uma parceria com o Governo Federal, a intervenção teve investimentos em torno de R$370 milhões. Para o atual
governo, sobrou a drenagem dos rios Tindiba, Grande, Covanca e Pechincha, além da Bacia do Rio Acari.
Segundo o professor da Uerj, os projetos de macrodrenagem das Bacias do Rio Acari e de Jacarepaguá não diminuem as inundações na Zona Oeste porque eles canalizam os rios. O processo de canalização consiste no aprofundamento e alargamento dos rios fazendo com que os detritos presentes neles sejam empurrados para baixo e a concentração de vazão nessas áreas aumente. Contudo, isso pode piorar os alagamentos já que, por serem áreas mais baixas, que estão suscetíveis a influência da maré e da alta vasão do canal, a água pode não conseguir escoar.
A assessoria de comunicação (Ascom) da Rio Águas disse em nota que foram investidos cerca de R$ 94,7 milhões na canalização e revitalização dos trechos 5 e 4 da Bacia do Rio Acari, compreendidos entre a rua Luis Coutinho Cavalcanti e Av. Brasil, e está buscando recursos de financiamento para continuar os investimentos nesta região. Em relação a Bacia de Jacarepaguá, os rios Pechincha e Covanca foram canalizados e, segundo a assessoria, a Prefeitura trabalha na canalização do Tindiba e Grande com término previsto para 2020.
Enchentes na Zona Sul
As chuvas que ocorreram em abril desse ano, além de provocarem alagamentos em vários pontos da Zona Oeste, também inundaram a Zona Sul do Rio. Áreas do Jardim Botânico e Lagoa ficaram interditadas por horas devido à demora no escoamento da água, provocando uma série de transtornos para a população, e mesmo assim, nenhuma solução foi proposta para a região.
- Tanto na Zona Sul do Rio como em todas as áreas da cidade, os problemas se repetem. Além de soluções efetivas, existem medidas básicas que reduzem o problema. A Prefeitura tinha que contratar equipes específicas para limpar o sistema de micro (galerias de águas pluviais) e de macrodrenagem (rios) durante todo o ano e no período de estiagem respectivamente – sugere o professor Ottoni.
A Ascom da Rio Águas disse que há um estudo de implantação de rede de microdrenagem na rua Jardim Botânico e de melhorias na macrodrenagem da região, especificamente na calha do rio dos Macacos ao longo das ruas General Garzon e Pacheco Leão. Em relação à Lagoa Rodrigo de Freitas, a assessoria afirmou ainda que existem estudos para
readequação do sistema de microdrenagem dos pontos críticos no seu entorno e que o trecho da Hípica, por exemplo, já sofreu intervenções com a reformulação das galerias de águas pluviais e com a alteração do nivelamento da pista.
Combate a enchentes na Grande Tijuca e Maracanã
Em abril desse ano, foi entregue a obra de desvio de parte do curso do Rio Joana, importante etapa do programa de controle de enchentes da Grande Tijuca e Maracanã que já conta com os reservatórios (piscinões) nas praças da Bandeira, Varnhagen e Niterói. A obra, iniciada na gestão passada, em 2012, permite que parte das águas do Joana seja despejada diretamente na Baía de Guanabara, evitando tanto a sobrecarga na Bacia do Canal do Mangue quanto os alagamentos na região da Praça da Bandeira.
Entretanto, para o docente, os piscinões – reservatórios que armazenam água do transbordamento de rios – são uma solução errada pois existe um erro grosseiro nesse projeto: os piscinões têm grades para impedir a entrada de lixo mas eles são enterrados, dificultando a manutenção e a limpeza dos materiais que ficam retidos nas grades e impedem a passagem da água.

Entrada do Setor C do Maracanã, na Rua Eurico Rabelo, alagada em abril desse ano
Cris Dissat/Fim de Jogo
- O rio já começa a transbordar no entorno dos piscinões. Ou seja, gastaram R$500 milhões para agravar as inundações no entorno dos piscinões. Obviamente isso gera um alívio na Praça da Bandeira mas você gera transtornos muito maiores – afirma Adacto.
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