Slam das Minas: mulheres, poesia e resistência tomam conta das ruas do Rio
- thegabriellasouza
- 11 de jun. de 2019
- 4 min de leitura
Nascido nas ruas periféricas dos Estados Unidos nos anos 80, o Slam tem a influência do rap
NATHÁLIA SILVA

Raya Arteira tem 20 anos e é moradora da Lapa.
A necessidade de quebrar a elitização da poesia reuniu jovens em praças para recitarem suas rimas poéticas de maneira livre e sem métrica, usando apenas o corpo e a voz como instrumentos de competição. Essas poesias são o compartilhamento de vivências ou desabafos sobre a experiência de ser periférico.
No Brasil, o slam surgiu também como um grito da periferia anos depois. Contudo, somente em 2015 que surgiu o movimento que deu espaço especificamente para mulheres. O Slam das Minas começou no Distrito Federal e, menos de três anos depois, já tem edições em São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia e Rio Grande do Sul. As competições acontecem nas ruas mesmo e essas edições menores funcionam como etapas classificatórias para o Slam BR, campeonato nacional de slams que leva o vencedor para o campeonato mundial – algo que já aconteceu com a Luz Ribeiro, uma das idealizadoras do Slam das Minas de São Paulo.
No Rio de Janeiro, o Slam das Minas é dividido em grupos espalhados pela capital e Baixada Fluminense. Cada poeta pode participar de um ou mais grupos, sem restrições. O evento começa com a escolha dos jurados, geralmente são 5 pessoas da plateia que têm a função de dar uma nota de 0 a 10 para as participantes em cada rodada. Quem quiser participar é só se inscrever. Um detalhe que merece destaque é a restrição do uso de acessórios, é preciso performar com o corpo. Para a vencedora, o prêmio é geralmente um livro, uma camiseta ou um CD. De qualquer forma, sempre é algo produzido por alguém da área do Slam. Além disso, quem quiser recitar e não quiser competir, pode participar do microfone aberto que acontece antes da batalha.
Os eventos sempre são em espaços abertos, como praças. O público em média é de 50 ou mais pessoas em slam locais. Quando ocorre uma reunião de todas poetas há um aumento de assistentes: de 200 para cima.
Para Raya, poeta do Slams das chicas da Silva, Vila Isabel, Melanina, Marginow, Pequena África e UERJ, mulheres negras fazem parte da categoria que menos têm oportunidades e estar com o microfone nas mãos expondo as suas vivências é uma revolução. Para ela, as praças são transformadas em territórios de aprendizado onde se pode falar, ouvir e ser ouvido. Em entrevista a jovem falou sobre o acolhimento que sente nos eventos:
“A gente ouve depoimentos, poesias de pessoas que falam das experiências próprias e passaram por momentos difíceis, passaram por isso e se recuperaram. A gente vê percebe que não está sozinha e a gente meio que se une. É uma força que não tem tamanho.”
A escassez de mulheres no Rap também é algo que impulsiona Raya. Segundo o Ministério da Educação, apenas 30% do artistas do Rap são mulheres. O ritmo te foi e é marginalizado, no qual as mulheres eram tratadas como objetos sexuais, ainda deixa resquícios de diferenças sociais.
“É muito importante um lugar assim: para as minas falarem no cenário hip hop que é tão masculino. Nas batalhas de rap freestyle, nas batalhas de sangue, a maioria da galera era só homem. Pra maioria dos lugares que eu ia era só homem. No Slam das Minas não! Só tinha mina e inclusive foi o lugar que eu comecei. Que eu pensei:”Caraca, só vai ter mina. Finalmente vou poder falar minhas poesias…" E foi isso. De lá para cá nunca mais pareiRaya Arteir
Em 2017 o Slam chegou no Rio e desde então não formou apenas poetas. Há quem acompanhe o evento e nem se quer sobe no palco que aprende muito com tudo que foi apresentado ali. Segundo, Odara, freqüentadora do Slam BXD, mulheres que assistem se sentem representadas.
“O Slam das Minas tem o mesmo intuito de qualquer Slam que é propagar o protagonismo da fala da maioria, da Baixada que antes não era tão visada quanto está sendo agora com o Slam. Que deu muita força em vários lugares. Mas Slam das Minas tem essa particularidade que é dar força e fala para mulher independente do gênero. Nesse momento em que tá crescendo muito os casos de feminicídio é muito importante um lugar de acolhimento, de te proporcionar conforto. Onde você pode apresentar sua arte e seu trabalho e falar sobre coisas importantes como a união do feminismo e união das mulheres da Baixada, da favela que é bem criminalizada em qualquer lugar.
O Slam acontece semanalmente em cada região. Geralmente na última semana do mês há uma reunião geral que serve de encontro com todos os Slams das Minas do Rio. Elas também se apresentam em atos, oficinas de escolas, apresentações em espaços socioeducativos e colônia penal feminina. Mais de 150 mulheres já participaram das batalhas de poesia. Em maio desse ano, o grupo completou dois anos. A comemoração será no próximo dia 15, às 16h, na Banca do Andre, na Avenida Rio Branco.
Comments