Consumidores buscam alternativas para o Dia dos Namorados
- maria machado
- 10 de jun. de 2019
- 4 min de leitura
DIY, sigla em inglês do termo “Do it yourself” (faça você mesmo), tem sido referência para
jovens comerciantes.
Por Dayane Campos
Segundo levantamento da Boa Vista, empresa de serviços econômicos, o Dia dos
Namorados tem expectativa de crescimento de, no máximo, 2% das vendas na
comparação com 2018, podendo registrar o pior resultado dos últimos três anos (2016
com 5,8%, 2017 com 2,6% e 2018 com 2,2%). Esses dados têm se tornado realidade
devido a busca de jovens por novas formas de economizarem seu dinheiro e fazerem
seus companheiros mais felizes e de forma rentável.
Helena Gomes, de 20 anos e estudante de Comunicação Social da Universidade do
Estado do Rio de Janeiro (UERJ), encontra na sua confecção de bordados um novo jeito
de presentear pessoas. A jovem que tinha os bordados como um hobby, nunca os
imaginou como uma possibilidade de ganhar dinheiro, mas com o sucesso em suas
redes sociais ao postar seus trabalhos decidiu os colocar à venda. Helena conta que
confecciona seus bordados para outras pessoas darem de presente no dia 12 de junho,
mas que também cria seus próprios presentes a mão: “O bordado feito à mão tem
mais valor, pois requer mais trabalho, tem um cuidado maior e um tempo mais
dedicado, além de buscar algo que combine com a pessoa”.
Assim como Helena, a estudante de Estudos de Mídia da Universidade Federal
Fluminense (UFF), Gabriela Cox Mayall, fundou sua própria loja de cosméticos naturais
“Melmomento”, com o propósito das pessoas terem um momento de lazer com seus
produtos. Com cosméticos a partir de R$ 8, a jovem utiliza de sua rede social para
divulgar os produtos confeccionados por ela para o Dia dos Namorados. A jovem diz
que acredita que o importante é a intenção do presente e isso foi o mais relevante
para sua marca nesta época do ano: “Para a Melmomento desenvolvi embalagens
especiais, caixinhas de madeira personalizadas com frases de amor, em que cada
cliente tem a possibilidade de escolher os produtos de seu gosto a partir de R$ 30,
todos feitos artesanalmente”, afirma.

O fenômeno do trabalho manual como presente só existe porque as pessoas andam
buscando estratégias de poupar seu dinheiro, afirma a economista Gabriela Teixeira,
formada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). A economista percebe
que as pessoas andam mais conscientes em relação ao seu próprio dinheiro e diz que
apesar das condições favoráveis do crédito, com juros e inadimplência baixos para os
padrões históricos, os consumidores tendem a manter uma postura mais cautelosa
diante da decadência do cenário econômico: “Tem se dito bastante sobre crise e isso
tem deixado as pessoas mais cautelosas, além da conscientização pessoal financeira,
em que muitos consumidores entendem que um dia vale tão pouco perto de 364 que
ainda restam”.
Existem cinco linguagens básicas para que o amor seja expressado e compreendido,
para o conselheiro de relacionamentos Gary Chapman, há maneiras pela qual o ser
humano busca receber e dar amor. Para a psicóloga Thamires Marques, formada pela
UERJ, o ato de presentear uma pessoa se encaixa no estudo de Chapman, em que o
que menos importa é o valor financeiro e sim o valor simbólico. A psicóloga explica
que embora as datas comemorativas estejam associadas ao consumo, o que importa a
ser levado em conta é se aquilo foi dado de coração: “Se observa um investimento
muito grande em datas comemorativas pela relação das pessoas com os bens
materiais, que se encontram ligados a questão afetiva. Acredita-se que no ato de
presentear existirá uma demonstração de amor e isso nem sempre será só com o
presente caro”.

Gustavo Saboia, de 21 anos e programador na Info Globo, viveu a experiência de
vivenciar a linguagem do amor no presente feito à mão pela sua namorada, garantindo
que se sentiu especial pelo tempo em que a pessoa teve para preparar algo. O rapaz
também diz notar que as pessoas andam mais criativas e empenhadas em por seus
sentimentos em objetos feitos manualmente: “Me senti especial e amado ao ganhar
algo feito pela minha namorada, porque sei que ela gastou seu tempo vendo os meus
gostos para ter um processo criativo e criar algo para mim”, afirma.
A data do dia 12 de junho é sempre muito explorada pelo comércio e grandes
empresas, que investem cada vez mais para buscar seu consumidor, que não costuma
considerar o valor oferecido sobre os produtos. Segundo dados do Serviço de Proteção
ao Crédito (SPC), os jovens são os que mais possuem dividas no banco, com 45% dos
gastos realizados principalmente em itens de consumo, como vestuários e lazer.
Para o educador financeiro Antonio Mota, da UFF, as pessoas têm aprendido mais com
seus erros financeiros e isso tem feito com que elas busquem novas alternativas para
agradar ao próximo. Antônio diz que resolveu trabalhar como educador financeiro
após ter tido uma dívida com presentes de Natal e garante já ter confeccionado
produtos a mão para economizar: “Toda vez que um cliente me pergunta o que dar de
presente, eu sempre digo para ele pensar se prefere deixar de se alimentar, ou dar
algo caro a alguém. Incentivo e apoio presentes confeccionados a mão, ou comprados
por quem faz, porque são simbólicos e não deixam de abranger as classes mais
abastadas da sociedade”.
O educador acrescenta ainda que falta para algumas pessoas preservarem mais sua
vida financeira e o valor do dinheiro, mas não deixa de pensar no lado afetivo,
garantindo que tudo que for gerado com consciência não deve ter seu valor
perguntado. Antônio afirma conhecer outras pessoas que confeccionam presentes
para seus parceiros e que se sentem felizes com isso: “Uma amiga minha sempre
pesquisa presentes para serem feitos em casa e nunca percebi seu namorado triste por
recebe-los. Assim como confecciono, também consumo e vale muito mais buscar
alternativas mais baratas, porque você nunca sabe a sua situação daqui há algum
tempo, ou a situação econômica do seu país futuramente”, diz.
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