Endividamento entre jovens de 18 a 24 anos ganha destaque e chama atenção para a economia
- maria machado
- 20 de mai. de 2019
- 3 min de leitura
Inadimplência alcança mais de 12 milhões de jovens
Por: Gabriela Ferreira
Iniciar a vida no mercado financeiro tem se tornado um obstáculo cada vez maior para a
população jovem. Falta de educação financeira, hábitos consumistas, baixa remuneração
e necessidade de ajudar em casa estão entre as causas do endividamento que assola a
Geração Z. Já entre as dívidas, os bancos aparecem como principais fontes de
arrecadação do dinheiro dos jovens segundo dados do Serviço de Proteção ao Crédito
(SPC).
A Geração Z, que contempla jovens de 18 a 24 anos, vem acompanhada de uma época
onde padrões de consumo se fazem cada vez mais presentes através da publicidade. Ter
o celular mais avançado, a roupa da moda, hábitos alimentares diversos entre outras
práticas de consumo, como a recente inclusão dos aplicativos de transporte no mundo
dos gastos, estão entre os responsáveis pelo endividamento precoce.
De acordo com dados do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC), as dívidas com bancos
aparecem em primeiro lugar, ocupando 45% dos gastos realizados (relacionados
principalmente a itens de consumo, como vestuário e lazer), seguido do comércio que
diz respeito a 30% da inadimplência. Em sequência vem os gastos com telefonia (15%)
e água e luz (1,8%).
Além disso, a falta de educação e consciência financeira resultam em compras por
impulso que levam aos casos de inadimplência. Pesquisas feitas pela Confederação
Nacional de Lojistas (CNDL) e pelo SPC, mostram que 19% da população entre 18 e 24
anos possui o nome sujo, ou seja, estão inadimplentes, o que corresponde a cerca de
12,5 milhões de pessoas.

(Fonte: EA1)
A situação gera preocupação para a economia. O especialista em finanças Bruno
Andrade prevê maior dificuldade dos jovens em controlarem seus gastos quando
inseridos efetivamente no mercado de trabalho e possuírem maiores responsabilidades.
Segundo o especialista, a população mais jovem não é educada para economizar e,
apesar de saber da necessidade, não põem em prática, o que acarretaria maiores
problemas futuramente. "Se você tem um jovem com dívidas, considerando que a
maioria ainda vive com os pais, e ele não se conscientizar financeiramente, ele será um
adulto tomado por elas", afirmou Bruno.
O estudante de psicologia Lucas Amorim, 20 anos, se posicionou a respeito do
endividamento precoce dizendo que seus maiores gatos são com empresas de transporte
particular, como Uber e 99taxi, e consumo de comida. Ressaltou, ainda, sua dificuldade
em juntar dinheiro.
"Fico muito tempo fora de casa e, com isso, acabo gastando muito com comida. Acho
que a ansiedade que ronda a sociedade também influência muito nesse gasto específico.
Também uso muito aplicativos de transporte para me locomover por questão de
comodidade. São corridas baratas que no final do mês, somadas, me endividam."
O presidente da Associação Nacional dos Bureaus de Crédito (ANBC) apontou a
carência de educação financeira e de mentalidade de poupança como principais fatores
da inadimplência e chamou atenção para necessidade de inclusão financeira nos níveis
de ensino médio.
São poucas as escolas que possuem educação financeira na grade curricular já que não
se trata de uma obrigação. A estudante de jornalismo Allexia Silva, 19 anos, se formou
em uma escola que possuía a matéria de finanças e revelou maior facilidade em
controlar seus gastos, apesar de ainda apresentar dificuldades em fazer com que o
dinheiro do seu estágio arque com todas as suas despesas.
"O que mais consome meu dinheiro são as coisas da faculdade, por exemplo, quando eu saio tarde e acabo tendo que comer algo por lá e voltar de trem por ser mais seguro. Além disso uso meu dinheiro para ajudar em casa. Mas em relação a consumo não costumo comprar por impulso, compro apenas o que realmente preciso e sempre no limite de até 50% do que ganho."
A Era da tecnologia também pode ser considerada um fator de influência no
endividamento da Geração Z. Usufruir de tecnologias mais avançadas, como forma de
entretenimento, é um desejo de grande parte dessa geração. Soma-se a isso, a
competição social gerada pelo consumismo e a obsolescência programada (quando um
produto se torna inutilizável em um período relativamente curto, por interesse do
produtor, obrigando o consumo de um mais avançado).
Lucas Monteiro, 21 anos, evidenciou sua paixão por tecnologia, apresentada como sua
maior fonte de gastos, e dificuldade com cartões de credito: "Boa quantia do meu
dinheiro é gasta com jogos, muitas vezes por impulso. Comecei a trabalhar cedo e
sempre busquei meios que me fizessem sentir satisfeito com meu trabalho, acho que aí
nasceu o sentimento consumista." Já em relação ao cartão de crédito, Lucas acentuou a falsa sensação de poder aquisitivo que eles conferem.
O cenário desafiador e a baixa renda per capita (por pessoa) têm sido fatores
problemáticos para a economia. Segundo dados do SPC e da CNDL, o número de
consumidores com restrição no CPF cresceu 4,31% na comparação entre julho de 2018
e de 2017, chamando atenção para a necessidade de mudança.
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