Rio-Santos sofre com insegurança e problemas na infraestrutura
- Thulany Dhara
- 13 de mai. de 2019
- 5 min de leitura
Com explosão da violência na Costa Verde, a rodovia, que é avenida da região, sofre com assaltos, interrupções por tiroteios e inúmeros problemas na estrutura
Paulo Renato Nepomuceno

Pista irregular. Além de insegurança, ultrapassagens perigosas são realizadas com frequência, como no flagrante.
PAULO RENATO NEPOMUCENO
O aumento da criminalidade na região da Costa Verde fluminense reflete em quem usa a Rio-Santos, trecho de 209 quilômetros da BR-101 que liga a Avenida Brasil à divisa com o Estado de São Paulo. Aliado à insegurança, a estrada, que é rota de fuga em caso de acidente nuclear, sofre com buraqueira, sinalização precária, deslizamentos de encosta e pedras e pista simples.
A onda de violência que deixa refém a paradisíaca região tem origem na expansão do tráfico de drogas da Zona Oeste da capital fluminense para o interior. Segundo o Instituto de Segurança Pública, o ISP, o número de homicídios nas quatro cidades da região - Angra, Mangaratiba, Itaguaí e Paraty - saltou de 191 em 2017 para 252 em 2018, um aumento de 32%. A sombra dessa expansão penumbra no trecho da rodovia: segundo a Polícia Rodoviária Federal, foram registrados em 2018 204 casos de roubos a carros, 70 assaltos à ônibus e 23 roubos de cargas no trecho. Só no primeiro trimestre deste ano, já foram registrados 10 assaltos a coletivos, quatro roubos de cargas e 43 roubos de carros na Rio-Santos.
Na última quinta, 10, a rodovia foi interditada por três vezes no mesmo dia pela PRF por tiroteios que aconteceram na Sapinhatuba I. A comunidade, que fica no trevo de entrada da cidade de Angra, sofreu uma invasão da facção rival à que controla o tráfico no local. Em março, bandidos do bairro do Frade iniciaram uma troca de tiros com policiais que faziam a escolta de um comboio com carregamento de urânio que era transportado para as usinas nucleares de Angra. Um mês antes, bandidos tentaram assaltar um carro forte e houve uma intensa troca de tiros. Nada aconteceu com a carga nem com os seguranças.
Em 2017, Angra foi para nas manchetes internacionais depois que uma família inglesa que buscava um lugar para comprar água para os filhos e entrou na comunidade da Água Santa, também em Angra, e a mãe, Eloise Dixon, foi baleada por criminosos no abdômen.
A monitora de deficientes auditivos Valéria Araújo caminha por quinze quilômetros da estrada todos os dias para ir ao trabalho. Ela passava na hora do episódio envolvendo o carro-forte, no bairro do Camorim, que também é dominado por uma facção: –Foi um horror. Meu filho pequeno estava comigo e só ouvia os intensos disparos pensando que ia morrer ali. Agora, já virou rotina. Vira e mexe estamos parados na estrada esperando o tiroteio acabar para poder passar. Um inferno. – diz.
Já Waldemar Teixeira, aposentado, reclama das condições da pista: – É insuportável a quantidade de buracos. Sempre tem obra de contenção também, aí fica naquele vai-não-vai e vive atrasando a gente. Agora, a faixa simples é o que mais me irrita. – conta. Apenas 25 quilômetros da Rio-Santos é duplicado, no trecho que corta a cidade de Itaguaí. Entre Mangaratiba e Paraty, pequenos trechos contam com duas faixas por sentido.
ATÉ PREFEITURA ATUA NA SEGURANÇA
Um dos investimentos que a Prefeitura de Angra informou que iniciou neste ano é a instalação de câmeras que identificam as placas dos carros e em que ponto da cidade eles estão trafegando. Serão 44 instaladas por todo município, duas destas na Rio-Santos, nos limites com as vizinhas Mangaratiba e Paraty. O objetivo é poder descobrir aqueles que foram roubados e transitam pela estrada.
No final desta semana, a Prefeitura informou que representantes da administração municipal, da PRF, do batalhão da PM da área, a Polícia Federal, a Polícia Civil e da Operação Barreira Fiscal farão farão um curso para conhecimento deste novo sistema e que, em seguida, as câmeras vão começar a ser utilizadas pelos órgãos de segurança.
A Prefeitura não respondeu até o fechamento da reportagem o valor investido no programa e se há conversas com o Executivo Federal para melhorias da rodovia.


ROTA DE ESCAPE
A via é importante tanto na ligação dos distritos das cidades entre si como no plano de evacuação da Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto, os únicos dois reatores nucleares do país que correspondem a 1,7% da produção de eletricidade no Brasil, segundo o Ministério de Minas e Energia. Dividido em zonas de acordo com a distância do raio das instalações, o Plano, que é gerenciado por diversas instituições e corporações públicas, prevê que pessoas mais próximas sejam deslocadas para mais distantes e que, para isso, precisam usar a rodovia como rota. Os pontos de reunião e embarque em caso de acidente ficam nas entradas das localidades próximas às usinas, todos na Rio-Santos.
Moradora do bairro do Frade, que fica no raio de cinco quilômetros no entorno da planta, a professora Paula Costa teme pela segurança da família em caso de emergência: –Essa estrada vive dando problema. É barreira, aí fica no siga-e-pare. Tiroteio, ninguém passa, com medo. Quero ver o dia que tiver que correr por causa da Usina pra ver o que vai ser da gente! – exclama.
Perguntado se a situação da rodovia interfere na ação do Plano, a Defesa Civil Estadual, que faz parte da Coordenação e Controle de Emergência Nuclear, preferiu não comentar sobre o assunto. A Eletronuclear não respondeu até o fechamento da reportagem.
MELHORIAS MAIS PROFUNDAS NÃO ESTÃO NA PAUTA DO GOVERNO
O DNIT informou que lançou edital em agosto de 2018 para obras de recuperação asfáltica e drenagem num trecho de 65 quilômetros, entre o limite dos municípios de Itaguaí e Mangaratiba até o entroncamento com a RJ-155, que liga Angra à Barra Mansa, no sul fluminense. É nesta parte onde ocorre a maior circulação de carros dentro dos próprios municípios. Com valores não revelados pelo departamento, eram previstos seis meses de elaboração de projeto e outros dezoito para a realização da obra, mas, em setembro, a licitação foi suspensa sem maiores explicações pela autarquia. Para este ano, a Lei Orçamentária Anual disponibilizou, segundo o DNIT, R$84,7 milhões para todas os 490 quilômetros de rodovias sob sua responsabilidade.
Segundo o Programa de Privatizações e Investimentos, que integra conselho civil e atuação da Secretaria da Presidência para com os ministérios a fim de concretizar as atividades de parcerias e desestatizações, não há planejamento de privatizações para o trecho da Rio-Santos. A subpasta informou que, na última reunião do Conselho, dia 8, entrou para estudo de privatização trechos da BR-101 que cortam os estados da Bahia, Alagoas, Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte, mas que não há nenhuma análise em aberto para o trecho fluminense da rodovia. Procurado, o Ministério da Integração Nacional também confirmou que não há planejamento de privatização para o trecho.
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