Uezo: Em meio a crise universitária, a luta para ser universidade
- pedrowb
- 20 de mai. de 2019
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Um mês após audiência pública e em época de protestos, alunos da instituição, que não possui campus, expõem suas reivindicações

Por Bernardo Dias
O decreto feito pelo Ministério da Educação, no último dia 1°, que travou verbas para instituições federais de ensino impulsionou a luta universitária e a pôs em evidência para todo o país. Mas, na Fundação Centro Universitário Estadual da Zona Oeste (Uezo), juntam-se a essa luta causas mais primárias: fundada há 14 anos, ainda não possui campus próprio, e ainda busca ser reconhecida como universidade pelo Conselho Estadual de Educação.
No dia 2 de abril, a reitoria da Uezo reuniu-se com a Comissão de Ciência e Tecnologia da Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) em uma audiência pública visando debater as principais demandas da instituição. O esperado foco das reclamações na questão do espaço improvisado em parte do Colégio Estadual Sarah Kubitschek repete-se entre os alunos.
Os estudantes
Yuri Borges, presidente do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da Uezo, contou que há insistência na luta por um campus: “A importância do campus está sempre em pauta, tanto pelo movimento estudantil, quanto nas audiências na Alerj com a reitoria, que sempre acata nossas falas." Ele ressaltou, também, a relevância dessa questão na vida dos alunos: "Ter um campus próprio nos impactaria de forma absurda. Sem um, os alunos não têm uma sensação de pertencimento como nas outras universidades, onde os estudantes têm um campus para a chamar de seu. É inacreditável que uma universidade que produz tanto, mesmo com tantas limitações, ainda não tenha garantido espaço próprio."
Para Juliana Melo, estudante do 2° período de Ciências Biológicas na Uezo, o espaço também é prejudicial para a integração dos alunos: “Em questão de infraestrutura, a Uezo nem parece uma faculdade, ela é um puxadinho do 'Sarah', nem um campus nós temos", comentou ela, que percebe uma grande importância da pauta para os alunos, apesar de pouca movimentação: “Não vejo uma grande mobilização, mas todos os estudantes da Uezo esperam pelo momento em que a faculdade vai ser consolidada", completou.
Yuri percebe, ainda, impactos econômicos do não-reconhecimento da instituição como universidade e da falta de um campus: “Sem essa consolidação, sem um espaço próprio, temos dificuldade de receber investimentos de empresas privadas e emendas parlamentares.” Um dos exemplos observados por ele é a falta de um passe livre intermodal, que intensifica a dificuldade de acesso ao local e prejudica os alunos: “É muito difícil chegar na Uezo, e nosso passe livre funciona apenas na cidade do Rio de Janeiro, e não funciona nos trens, o meio mais fácil de chegar lá. Sem o intermodal, sem bandejão, muitos alunos não conseguem se sustentar na faculdade, e isso causa um número de evasão muito grande", comentou o presidente do DCE.
Além do que já é observado em seu tempo como estudante, Yuri revela um temor entre seus colegas diante do cenário nacional do ensino superior: “O corte nas universidades federais, e todo esse processo de descredibilizar o ensino superior, abre precedentes para que o mesmo aconteça nas estaduais, principalmente com um Governo do Estado ideologicamente alinhado com o Federal. E isso nos preocupa muito, pois a Uezo seria a primeira prejudicada, por ser a menor das universidades estaduais”, contou.
Os deputados

Integrante da Comissão Permanente de Educação da Alerj, o deputado estadual Renan Ferreirinha (PSB) ressaltou a importância reconhecimento da Uezo como universidade: "A Uezo já possui um trabalho de merecido reconhecimento nos três eixos do tripé ensino, pesquisa e extensão. Entretanto, ela sofre com incertezas, como a ausência de um campus próprio, que a impedem de ser reconhecida como universidade e reforçam esse lugar da falta de prestígio que, pela qualidade, ela merecia ter. Além disso, a falta da consolidação como Universidade reduz a projeção para que ela possa fazer pressão política por pautas legítimas, como a aprovação de um plano de cargos e salários semelhante às outras universidades do Estado do Rio."
Ferreirinha compara, também, as dificuldades de atendimento às demandas na instituição estadual com o cenário conturbado da educação em todo o país: "Acredito que há um processo de desvalorização da educação pública, junto a uma natural pressão da sociedade por respostas rápidas à crise econômica. Com isso, governos optam pelos contingenciamentos. Mas a educação dá resultados a longo prazo e interromper um processo de investimento gerará consequências que só entenderemos no futuro, quando pode ser tarde demais. As universidades públicas são responsáveis por 95% da pesquisa do Brasil, fundamental para avançarmos em inovação e desenvolvimento. Ou seja, se não valorizarmos a educação, não teremos o alicerce básico para o desenvolvimento econômico e, portanto, para reverter crise econômica alguma."
O também deputado estadial Alexandre Knoploch, do PSL, em contramão, minimizou os impactos da medida do Governo Federal nas universidades, e diz não ver relação entres os dois cenários: "Não há um cenário de desmonte. O que existe é um contingenciamento de 2,5% dos investimento para que outras áreas da educação pública federal não sejam penalizadas. Mesmo assim, não acho possível comparar. Cada caso tem uma aplicação de método e estratégia divergente para o tipo de situação em que pode apresentar". Knoploch, que é integrante da Comissão de Ciência e Tecnologia e esteve na audiência com a reitoria da Uezo na Alerj, também defendeu a importância dos investimentos na instituição: "São excelentes as perspectivas que temos no horizonte. Com a aprovação da lei dos duodécimos para as universidades e com o Governo do Estado, nas figuras do governador e do secretário de Ciência e Tecnologia, presente na área e atento às demandas dos profissionais e servidores da Uezo, temos a expectativa de retomada de um diálogo propício, que estimule a resolução dos atuais problemas traga mais investimentos e parcerias para universidades", comentou, com maior otimismo.
A reitoria
A reitoria da Uezo foi contatada por telefone e e-mail, mas nenhuma resposta foi obtida. A pró-reitoria de administração e finanças declarou não ter autonomia para manifestar-se.
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