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Manchas causadas pelo vitiligo interferem na autoestima dos pacientes

  • Foto do escritor: Jornalismo UERJ
    Jornalismo UERJ
  • 11 de jun. de 2019
  • 4 min de leitura

Doença é definida por perdas de coloração da pele



Por Allexia Silva


De acordo com a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), cerca de um milhão de brasileiros têm vitiligo. Trata-se de uma doença autoimune caracterizada por manchas brancas na pele formadas em consequência do desaparecimento das células produtoras de melanina – pigmento que colore a pele, cabelos e olhos. O tamanho e o local das manchas são variados, o que pode abalar a autoestima e a aceitação dos pacientes.


Dados publicados na revista Anais Brasileiros de Dermatologia, mostrou que 80% das pessoas com vitiligo sentem emoções desagradáveis pelas áreas do corpo que foram afetadas. O medo e a vergonha são os campeões dos sentimentos relatados, aparecendo respectivamente em 71% e 57% dos casos. No total, mais da metade dos pacientes veem a própria imagem de forma depreciativa em razão das manchas.


Gabriela Fernandes, estudante de Comunicação Social, tem vinte anos e foi diagnosticada com vitiligo aos cinco. Ao longo dos quinze anos convivendo com a doença, a estudante precisou lidar com o medo de mostrar as manchas que vieram junto com a doença: “Desenvolvi uma vergonha e receio de que as pessoas tivessem preconceito. A resolução para isso foi esconder. Na adolescência, eu usava meia calça escura, calça e casaco até mesmo quando estava muito calor para que as pessoas não vissem as manchas”.


Uma pesquisa realizada pelo departamento de psicologia da Universidade Federal de São Carlos apontou que as chances de baixa autoestima em mulheres com vitiligo são maiores em relação as que não têm. Junto a isso, foi observado que aquelas que apresentam problemas de aceitação relacionam isso a manchas em partes mais expostas do corpo, como o rosto e as mãos. Depois desses, os braços, as pernas, o colo e o pescoço são as áreas que mais incomodam.


Gabriela teve sua relação consigo mesma influenciada por sua pele desde quando passou a entender a situação. Isso porque a descoberta das características do vitiligo não vieram no momento do diagnóstico, mas sim junto a curiosidade das pessoas. Ela ressalta que esse processo de aprendizado e construção da autoestima não foi simples: “Tive que trabalhar minha autoestima mais que aceitar meu corpo e meus traços, precisei aceitar também que minha pele é manchada e a pele da maioria não”.


A psicóloga Sandra Duarte afirmou que a insegurança dos portadores de vitiligo está ligada aos padrões socialmente estipulados que excluem as diferenças do conceito de beleza. Para Duarte, a terapia é uma boa aliada para trabalhar a autoconfiança, mas outros fatores são necessários: “A ajuda de profissionais qualificados são essenciais, mas a sociedade deve se comprometer. Olhares e comentários que causam desconforto devem ser substituídos por redes de apoio e incentivo. Até mesmo porque ser diferente nos faz únicos”.


A empregada doméstica Lúcia Hermínio, 48 anos, têm vitiligo há quinze anos e sofreu com as reações das pessoas a sua volta. Segundo Lúcia, as consultas psicológicas são importante para a aceitação interna e externa: “A terapia me ajudou a perceber que não é nada demais. Fez eu lidar melhor comigo e com a indiscrição alheia. Hoje não me importo mais que perguntem, mas confesso que ainda tenho receio do olhar”.


Com o objetivo de incentivar o amor próprio, o publicitário Caio Braga, 25 anos, utiliza sua conta no Instagram para contar sua história com o vitiligo. Diagnosticado aos dezesseis anos, o jovem sempre teve uma boa relação com suas manchas e decidiu ajudar outras pessoas a alcançarem esse sentimento. Para isso, Caio criou o perfil Vitimigo, onde busca levar pessoas a não se incomodarem com as marcas da doença.


O Vitimigo promove uma visão diferenciada que insere o indivíduo com vitiligo na perspectiva de que é libertador se amar acima de tudo. O idealizador da marca destaca que seu foco é inovar a maneira como as pessoas se veem: “Quis fazer algo que não tinha visto ainda, uma campanha falando bem porque sempre vi campanhas ensinando a esconder, mas nunca naturalizando a ponto de dizer que não precisa esconder porque não há nada de errado”.


Não há cura para o vitiligo e ele pode ser unilateral, isto é, localizado somente em uma parte do corpo, com a possibilidade de atingir a coloração dos pelos do local da mancha, ou bilateral, quando as manchas aparecem nos dois lados do corpo. A doença é identificada clinicamente por dermatologistas que definem o melhor tratamento para cada caso. As causas para o vitiligo são hereditárias ou surgem a partir de traumas ou alterações emocionais.


A dermatologista Marina Ribeira, especialista em vitiligo, afirma que o ideal é conciliar o acompanhamento psicológico com prescrições de médicos dermatologistas para evitar possíveis complicações: “A falta de melanina hipersensibiliza a pele, por isso é preciso se consultar com um profissional que indicará cuidados específicos, como o fator do protetor solar. É importante associar saúde com autoestima e bem estar emocional”.


Portadores de vitiligo que protegem corretamente as manchas da exposição solar não têm prejuízos a saúde física. Como é uma condição que afeta diretamente a aparência, a preservação da autoestima e da aceitação são fatores que elevam a qualidade de vida e evitam que novos gatilhos emocionais causem novas lesões.

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