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Redes Sociais afetam saúde mental de jovens

  • Foto do escritor: Jornalismo UERJ
    Jornalismo UERJ
  • 10 de jun. de 2019
  • 4 min de leitura

O desejo de estar sempre conectado e o excesso de postagens pode ser indício de compulsão; jovem perde prova do ENEM por causa do vício.



Por Alice Lima


De acordo com dados da revista The AtlanticTwenge, o uso exagerado de internet e redes sociais pode ter relação direta com o aumento exponencial de ansiedade e depressão. Segundo a Organização Mundial de Saúde (ONU), elas incidem em 3,6% e 4,4% da população mundial, respectivamente. A ONU afirmou que a depressão pode ser considerada o “mal do século” e essa doença têm muitas causas, mas segundo pesquisadores, quando apresentadas em jovens, estão ligadas ao consumo em excesso de mídias sociais.


Marcela Falcão, estudante de direito do Ibmec, contou que busca incessantemente estar conectada, postar diariamente e atualizar suas páginas. Com esse hábito, desenvolveu ansiedade e problemas de autoimagem: “Eu me considero viciada. Estar presa nessa bolha e ter criado essa dependência me faz sentir mal, mas não consigo parar”. A necessidade de aceitação por meio de “likes” tornou-se o motor do seu dia a dia. No Instagram, por exemplo, acredita que todos parecem felizes, com seus relacionamentos indo bem, com o corpo em boa forma e frequentando lugares interessantes. Apesar do sentimento de vazio, também sente a necessidade de demonstrar para os outros uma distorção da realidade.


“Posto excessivamente, muitas vezes vou a lugares e consumo coisas que eu nem queria para poder tirar uma foto”. A estudante ainda relatou um caso em que chamou a amiga para sair e, ao ter uma resposta negativa, disse na mesma hora: “Eu preciso ir lá, eu estou precisando muito de uma mídia”, ou seja, por mais que não quisesse estar naquele lugar, desejava mostrar para os outros como sua vida é divertida.


O Instagram possui um dispositivo que diz o tempo diário no aplicativo do usuário, e o da estudante é de 8 horas. “Eu durmo com o celular do lado da minha cabeça, e as vezes respondo mensagens até dormindo. A sensação de ter o celular perto de mim, até mesmo na hora que deveria ser para eu me desligar, me traz sensação de conforto”.


De acordo com um estudo publicado na EClinicalMedicine revela que 12% dos usuários usam as redes sociais de forma moderada e 38% fazem uso excessivo (mais de cinco horas por dia) apresentam sinais de depressão grave. E ainda, 40% das mulheres, em comparação com 28% dos homens são afetadas pela imagem estética colocada como ideal nas redes sociais. Privação do sono, provocada pelo uso excessivo dessas mídias, também afeta mais a elas. As meninas são duas vezes mais propensas a ter depressão devido ao uso das redes sociais do que os meninos, o que indica uma pesquisa realizada pelo University College London (UCL).


De acordo com a psicóloga Patrícia de Souza, o número de pacientes com ansiedade entre os jovens tem crescido de maneira assustadora, juntamente com distúrbios do sono. Para ela, as pessoas têm uma vida idealizada do outro por conta das redes sociais e, dessa forma, passa a ser um palco com diversos telespectadores. Ao acompanhar pessoas com “overposting”, como o caso de alguns blogueiros, o internauta tem a falsa sensação de intimidade e de conhecimento daquele indivíduo em um grau mais íntimo, criando estereótipos a serem alcançados.


De acordo com Erick Scarponeti, estudante de engenharia da UFRJ, o Instagram é a imagem que quer passar para o mundo, seu portfólio. Por ser modelo e músico, usa as redes sociais para divulgar seus trabalhos. “O que muita gente não faz ideia é que desenvolvi depressão”, afirmou o estudante.


No início eu não entendia muito bem. Sentia taquicardia, angústia. Visitava o perfil de algumas pessoas inúmeras vezes por dia, e percebi que aquilo tinha se tornado uma compulsão. Meus relacionamentos não vingavam, sentia ciúmes excessivos, e as pessoas se afastavam de mim.

Ao começar a observar compulsoriamente quantas curtidas as pessoas tinham, perdia até o sono. As pessoas, por verem ele sempre viajando, em festas, fazendo trabalhos, acreditavam que ele tinha muitos amigos e era feliz. “Me sinto cada dia mais sozinho, mais perdido, como se eu fosse uma mentira” contou o modelo, ao explicar que suas curtidas são movidas por relações de puro interesse.


A partir do momento que percebeu que sua vida estava perdendo o sentido, decidiu procurar um psicólogo e, com apoio médico, se reestruturar. Ainda sim acredita ser muito difícil viver no mundo digital, e pensa muitas vezes em desativar sua conta.


Um estudo conduzido pela Secretaria de Saúde Pública de Ottawa, no Canadá, registrou que adolescentes que ficam por mais horas nas redes sociais têm uma chance maior de apresentar alguma fragilidade em sua saúde mental, sofrimento psíquico e pensamentos suicidas. Ao analisar estudos anteriores sobre o assunto, concluíram que o vício em rede social é um problema de saúde mental que "pode" exigir tratamento profissional.


Para Marcela Falcão, essa dependência já afetou diretamente sua vida pessoal. No terceiro ano do Ensino Médio, ao ficar horas utilizando o celular assistindo uma live de uma famosa, acabou não saindo com a antecedência necessária para a prova. “Perdi o Enem e um ano inteiro de estudos. A frustração era grande, mas eu sabia que em grande parte a culpa era minha”.


O Instagram, ao observar que o aplicativo poderia ser nocivo para alguns usuários, decidiu fazer testes para mudar o formato da plataforma, ao tornar os likes invisíveis. A pressão nos usuários será menor e ferramentas como “cutucar” ao ver um comentário tóxico e o “Awaymode” serão utilizados.

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