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Tentativa de tecnologia inovadora por parte de Flamengo e Adidas não freia venda de réplicas

  • pedrowb
  • 27 de mai. de 2019
  • 5 min de leitura

Atualizado: 10 de jun. de 2019

Empresa de material esportivo implementou tecnologia 3D em camisas do clube rubro-negro para evitar falsificação, mas cópias são vendidas incessantemente


Por Pedro Werneck

No dia 22 de março deste ano, o Flamengo, em parceria com a Adidas, lançou sua nova camisa número um para a temporada. O uniforme conta com a palavra “Mengo” escrita em 3D dentro das listras vermelhas. O objetivo da inovação é dificultar a falsificação do item, já que os comerciantes não teriam acesso à tal tecnologia. Gustavo Rodrigues, que trabalha no setor comercial do clube, ressaltou o comprometimento do clube em evitar a falsificação: “O Flamengo e a Adidas estão sempre buscando novas tecnologias que possam dificultar a pirataria.”

Diego Ribas no lançamento da nova camisa em março (Foto: Reprodução/Twitter: @ribasdiego10)

O torcedor rubro-negro, porém, não vê uma grande diferença da camisa original para a réplica nesse ponto. O membro da torcida Caio Kattenbach comprou uma cópia e observou dessa forma: “Em relação a essa camisa nova, a única coisa que realmente senti de diferente foi o material, porque a marca d'água não tem um relevo nem nada de muito marcante”.


Vídeo: demonstração da marca 3D da camisa



O principal ponto de referência de venda de materiais falsificados no Rio de Janeiro é a Uruguaiana, no Centro da cidade. O local virou um verdadeiro mar de camisas do Flamengo. Qualquer um que dê uma volta por lá observa que é o produto mais vendido. Leonardo, torcedor fanático do clube, destacou a qualidade dos materiais encontrados nessa localidade: “Para quem é torcedor e não tem condição de comprar a camisa na loja oficial, o lugar é aqui, os produtos são de primeira linha e chegam bem próximos dos originais”.



Diferentes pontos de venda na Uruguaiana

Os vendedores da Uruguaiana não sentiram diferença nas vendas após o lançamento da nova camisa. É unanimidade entre os comerciantes que a camisa do Flamengo sempre foi um dos itens mais vendidos e continua sendo esse ano. Uma dessas vendedoras, que não quis ser identificada, destacou a inexistência de mudanças: “Olha, não fez nenhuma diferença, o povo continua fazendo réplica e vende muito. Não mudou nada", ela afirmou.


Hoje, a camisa oficial do Flamengo em uma loja do clube, denominada “Espaço Rubro-Negro”, custa R$250,00. Segundo Irlan Simões, pesquisador do Laboratório de Estudos de Mídia e Esporte PPGCom/UERJ, não é uma marca d`água que vai mudar a inacessibilidade desse preço a uma parcela da torcida: “É uma perda de tempo, porque o torcedor que tem condição de comprar uma camisa oficial, mesmo que parcelando em dez ou doze vezes, vai fazer. Ele se recusa a vestir o material de baixa qualidade, que é evidente nas camisas falsificadas. Quem recorre à falsificada é quem não tem mesmo menor condição de comprar”, ele disse.



Camisa sendo vendida no "Espaço Rubro-Negro" do Botafogo Praia Shopping

Kattenbach crê que o alto preço da camisa e a medida do clube de tentar resolver a situação dessa forma dizem muito da relação da diretoria com sua torcida: “Desde a administração Bandeira de Mello [presidente do Flamengo entre 2013 e 2018], a gente percebe um tipo de elitismo na relação com a torcida, como se quem tivesse dinheiro pra gastar fosse mais torcedor do que os outros. Acho muito válido você explorar economicamente o torcedor que tem dinheiro para dar, mas não pode desmerecer aqueles que gastam mais do que tem com o time.”


Além do preço em si, Caio também acredita que as lojas oficiais do clube são menos acessíveis do que outros locais de venda: “Eu vejo uma facilidade muito maior do camelô de chegar ao consumidor do que a loja oficial. Por isso que eu acho que os ´Espaços Rubro-Negros` deveriam ser repensados.”


Cássio Ponte, estudante de Contabilidade pela UFRJ e flamenguista, é mais um que não acredita que as lojas oficiais do Flamengo são devidamente exploradas: " Algumas pessoas sabem que aquelas da Uruguaiana são falsificadas, mas é tão mais fácil, está mais perto e barato. Ver uma loja oficial pode bater um peso na consciência se estiver ali perto das falsificadas, a pessoa sabe que comprando numa loja oficial o dinheiro vai pro seu clube do coração."


Leonardo, o torcedor que destacou a qualidade dos produtos da Uruguaiana, diz que ainda ainda assim prefere comprar na loja oficial, justamente por sentir que está ajudando o clube: “Olha, eu dou uma apertada, parcelo, mas compro na loja do clube, porque sei que estou ajudando. Antes eu comprava aqui na Uruguaiana, e não julgo quem vem aqui, mas hoje tenho condições e sei que se eu compro a falsificada não estou ajudando meu time.”, ele explicou.


Por outro lado, Irlan considera o peso da venda de camisas dentro das finanças do clube supervalorizado: “O que muito torcedor não sabe é que o clube ganha muito pouco com a venda de uniformes. Não é nada relevante a ponto de o torcedor ter que ficar tão comprometido em comprar a camisa do clube, porque acha que vai ajudá-lo durante o ano. A venda é muito mais importante para a fornecedora de material esportivo, no caso, a Adidas. O lucro do clube vem do sócio-torcedor, do ingresso e principalmente da televisão.”


Por mais que os altos preços e falta de aproximação com o público possam justificar a opção por mercadoria falsa, não se pode esquecer que a pirataria é crime. A lei responsável pelo controle de tais ações criminosas é a 10.695, sancionada pelo ex-presidente Lula, em 2003. A pena aos que reproduzem e revendem produtos de forma ilegal varia de um a quatro anos.


Cássio observa como uma possível medida para solucionar tanto o problema da pirataria quanto do alto preço das camisas a criação de um "uniforme popular" por parte do clube: "As pessoas não vão de deixar de comprar o uniforme principal, todo mundo quer aquele que sai no jogo, mas o clube pode mostrar que quem não tem dinheiro ainda pode ter uma camisa". Ele enxerga nessa ação uma grande oportunidade lucrativa para o próprio clube: "Isso diminuiria muito as vendas no mercado paralelo, fora que as receitas ficam com o clube e seus fornecedores", ele completou.


Olhando pelo lado da justiça, porém, o estudante de contabilidade acha estranha a facilidade com que esses produtos chegam aos locais de venda. Segundo ele, a pirataria traz uma série de prejuízos e deve ser melhor combatida: "Mecanismos que dificultem a prática desse crime e uma integração maior entre as polícias são necessários. Se há tantos anos são vendidas camisas falsificadas do Flamengo, como não localizam? O país perde, pois nem essas fábricas e nem as lojas que vendem esses produtos pagam impostos", ele relatou.


O funcionário do clube Gustavo Rodrigues disse que não existem números que comprovem o sucesso da inovação tecnológica em si, mas se mostrou extremamente satisfeito com o resultado das vendas da camisa: “As camisas foram um sucesso, nós vendemos 16 mil peças em 3 dias.”


Mesmo com o sucesso das vendas, Kattenbach fez questão de ressaltar que essa inovação foi um fracasso em relação ao objetivo que se propôs a resolver: “Falhou e vai continuar falhando enquanto não só o preço como o método das vendas não for repensado”, ele afirmou.

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